quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A HORA DOS LOBOS Cap. 1


                 Lobos imagens em preto e branco.
 




       1.O primeiro dia de aula e a profecia

Um lobo negro e enorme se aproximava de mim...
Tinha a boca escancarada, faminta por um pedaço de carne que seria eu...
Olho pros lados... Não, não tinha escapatória... Podia chamar por minha mãe, mas ela não estava por perto...
Menina e lobo se encaravam... Um esperando o passo do outro para abocanhar, a outra buscando um meio milagroso de fuga...
Não tinha a menor chance...
Dou um passo para trás e o lobo... E o lobo...
TRIMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
Sou salva celular que me desperta!Ufa!
Por pouco não viraria comida de lobo. Passo a mão pelo meu corpo. Estava suadíssima. Já era a segunda vez que sonhava com esse mesmo lobo. Parecia uma espécie de filme de terror, cujo repetia a mesma cena.
Se vó Luzia estivesse viva, ela diria para ter cuidado, pois aquilo podia ser uma premonição ou algo do gênero.
Ah, tá!
Felizmente, não acreditava nessas crendices. Quando estava prestes a entrar no banheiro para tomar uma ducha, ouço um berro vindo do outro lado de minha porta:
--TABATHAAAAAA, ACORDE OU VOCÊ VAI SE ATRASAR PRA ESCOLA!!!!
E ao que respondo:
--TÁ, MÃEEEE EU JÁ ACORDEI,PODE DEIXAR.
Vendo que sua filha havia respondido ao seu comunicado, minha mãe, deixa-me.
Aproveito e corro pro chuveiro.
                                ***
Olho-me no grande espelho oval ao lado esquerdo da cabeceira de minha cama. Cara, eu estava uma figura verdadeiramente detestável. Havia olheiras marcando meus olhos, envelhecendo-me, pelo menos uns quinze anos.
Arfo impaciente.
A culpa não fora minha e sim do pessoal da montadora de moveis que ficara de vir. O que fez com que eu e minha mãe tivéssemos de dar uma geral na casa, que ficou parecendo com uma casa que acabara de sofrer um terremoto.
Tiro a toalha branca que encobria minha cabeça como um turbante e deixo escorrer o meu cabelo alourado. Dou uma escovada nele. Passo um gloss de cereja selvagem, depois contorno meus olhos com um lápis de olho bem marcante e para finalizar passo um rímel.
Visto uma legging vinil preta, a camiseta branca sem da graça da escola e uma jaqueta também da mesma cora da calça com estampa de caveira em branco nela.
Há garotas que preferem: flores, animais, unicórnios, sereias e etec.
Eu prefiro as caveiras.
Não, não sou gótica. Não sei por que, mas as caveiras me atraem de alguma forma. Pode parecer algo meio sombrio ou esquisito, porém gosto não se discute.
Cada um tem o seu.
Olho novamente pro espelho. Faltava alguma coisa. Algo para combinar com a jaqueta Ah, sim. Não podia esquecer dos brincos de caveira que havia ganhado de meu pai.
Pronto. Minha produção pro primeiro dia de aula estava o.k.
Pego a minha bolsa em cima da penteadeira e desço correndo, apressadamente as escadas.
                                       ***
 Minha mãe tinha estacionado o carro, uma quadra antes como eu havia pedido.
Como ela estava com muita pressa, pois seria seu primeiro dia no emprego novo, num escritório administrativo, ela nem quis contestar.
E eu fiquei muito contente com isso. Por dois simples motivos:
1. Eu, não correria a chance de pagar o mico maior, entre nós adolescentes, do segundo grau, que era: pais te levarem a porta da escola. Não há gafe maior. Tornaria alvo de fuxicos, por pelos menos durante uma semana.
2. Minha mãe não ficou me dando sermão! U-hu!Isso era um máximo. Já que normalmente, ela ficaria me questionando como se eu fosse alguma ladra e ela a delegada. Tudo bem que na maioria das vezes eu punha os fones de ouvido e aumentava o som no último volume.
Olho em meu relógio: faltava pouco menos de quinze minutos.
Havia tempo suficiente para eu dar uma vistoriada nas pequenas lojas daquele quarteirão.
                           ***
Estava parada a frente da loja que mais havia me chamado a atenção. Aparentemente, era uma loja de esoterismo. Havia escrito na vidraça do lugar, por meio de letras vermelhas em estilo gótico o seguinte:
MADAME SOPHIA: VIDENTE
Aquela que adivinha o futuro e que vê o passado.
Quem em sã, consciência iria se consultar numa adivinha?
Há! Posso até adivinhar os tipos de pessoas que devem ir visitá-la: mulheres desesperadas querendo saber se seus maridos as traem, garotas ingênuas querendo descobrir quando o seu príncipe encantado chegaria e filhas gananciosas se perguntando quando o pai iria morrer, para que elas pudessem ficar com a grana...
Pensava sobre isso quando dou de cara com a dona da loja.
--Olá, querida o que você quer?—me perguntou a mulher.
Uma senhora baixa e corpulenta de pele amarronzada como canela. Vestia um vestido vermelho cheio de babados que combinavam com o batom de mesma cor berrante que usava.
Ela era uma autêntica cigana.
Porém o que mais me chamou a atenção, não fora o seu nariz de batata, nem se quer os seus brincos imensos de argola, mas sim os seus olhos verdes claros como jade.
As palavras não saíam de minha boca como se elas estivessem presas, enjauladas de alguma forma dentro de mim.
--Vamos, diga o que desejas?—perguntava cigana.
De algum modo as palavras foram me surgindo e eu disse:
--Não desejo, nada. Muito obrigada... —disse dando as costas a ela. Contudo, antes mesmo de eu dar um passo a velha cigana me pega pelo pulso. Imobilizando-me, como um caranguejo a sua presa.
--Ei, me solte... Largue-me... —digo tentando desvencilhar-me das garras daquela mulher. Mas ela não me largava. A mão dela parecia ser feita de ferro...
Poderia até gritar, mas naquele momento a rua estava completamente deserta. 
Dado momento, em que ela pega minha mão (que a essa altura estava fechada porque a dor era insuportável) e abre-a.
A cigana passava aquelas unhas vermelha sobre minha palma. 
Parecia analisar algo...
Depois, ela pega a minha outra palma e repete o mesmo processo. Durante o qual ela não exprimira nenhuma palavrinha. Mantinha-se apenas centrada com os olhos revirados pra trás como se tivesse possuída. No final de tudo ela disse em voz sussurrante:
--Chegará o momento, em que você irá se apaixonar...  Ficará entre um lobo e um homem... Um caminho terá que trilhar... Um te levará a morte o outro ao amor...
Dito isso, a cigana voltara ao seu estado normal. Estava meio zonza, parecendo ter saído dum transe diabólico. Ela solta minha mão e fica me olhando como se estivesse se perguntando o que acontecera.
Tive o desejo de lhe perguntar o porquê de ela ter feito aquilo, mas no momento não tive coragem, nem ao menos tempo.
 Saio correndo, deixando a velha cigana para trás.
                            ***
--Ei, Tabatha!—grita Alieta.
Respiro fundo. Ninguém merece!
Estaco e espero até que ela me alcance. Alieta é a minha mais nova colega de classe. Bom, pelo menos a única que não me ignorara ou fingia me ignorar. É que sempre o diferente, provoca tal reação nas pessoas: o tal medo do desconhecido, do estranho (no meu caso).  
--Você vai fazer o que a noite?—me pergunta ela.
--Pretendo fazer o resumo de literatura, por quê?—pergunto interessada. Na verdade, não iria fazer relatório algum. Passaria a noite toda ouvindo Rolling Stones e Strokes. E quem sabe, ler um romance de terror...
Alieta me olha com aqueles olhos castanhos claros e me propõe:
--Acho que tenho algo, melhor... O que você acha de irmos a uma festa?
--Que festa?—pergunto curiosa.
--Uma festa a fantasia ora essa. Uma festa promovida por Marine Suprime a garota loura, popular e mais sexy da escola.
Quase ri quando ela se referiu a Marine como sexy. Cara ela parecia um palito de fósforo descartado de tão magra que era.
Olho bem para cara de Alieta. Se fosse a festa que Marine anunciara no intervalo, quais os convidados só poderiam ser os mais tops da escola, eu e Alieta, obviamente não estaríamos entre eles.
--Mas como você pretende conseguir os convites?
Ela me olha com ar de gracejo e diz:
--Darling, eu tenho os meus contatos... Não se preocupe, deixe comigo — disse Alieta. Uma das coisas que aprendi sobre Alieta é que quando ela se irrita esta sai distribuindo darlings pra todos os lados como uma metralhadora em pane.
--Tá. Que horas vai ser?—pergunto.
--Vai ser às nove e meia. Mas eu passo meia horinha antes na sua casa pra irmos juntas, pode ser?
Aceno com a cabeça em concordância.
Pensando bem até que uma festinha não cairia mal. Era bom para eu ver como as festas desta cidadezinha eram.
--É... Tabatha... Posso te perguntar uma coisa?—diz ela, me olhando sedenta de curiosidade.
Lá, vem...
--Sim. Pergunta—respondo.
--O que você achou do Tyler?Ele não desgrudava os olhos de você nem por um segundo na hora do intervalo...
Alieta me fitava esperando uma resposta.
O que eu achava do Tyler?Ele era alto, cabelos escuros e revoltos, tinha uma pele pálida, porém fazia o tipo esportista e o melhor de tudo: possuía olhos verdes como de um lobo...
Ai, ai, ai... Ele seria o que vovó Luzia chamaria de perdição...
--Ai!—exclamo após Alieta me dar uma cotovelada nas costelas.
--Vamos você me deve uma resposta... —alega ela.
--Eu o acho gato...
--Só?!—diz ela.
--Não. Ele é simplesmente: gato, gato, gato, gato, gato, gato e muito gato.
Após de eu dizer isso, ambas caímos na gargalhada.
Até que estar perto de Alieta não era tão ruim assim.
--Não quero cortar o fio dourado de seu sonho, mas Tyler é noivo de Marine Suprime—diz ela num tom solene.
Oi? Tyler o gostosão da escola era noivo de Marine Suprime a Olivia Palito?
--Ah, para de zoar, Alieta!—digo.
--Não estou zoando. É a mais pura verdade... Há boatos que eles irão se casar em breve... Muito provavelmente no recesso de dezembro...
--E como você tem tanta certeza disso?
--Darling, como já havia dito. Eu tenho os meus contatos —diz ela com ares de jornalista de revista de fofocas.
Em certo momento a estrada em que caminhávamos acaba numa bifurcação.
     --Bom, amiga tenho de ir—diz Alieta despedindo-se de mim com um beijo estalado na bochecha, seguindo pelo caminho da direita.
E eu pelo da esquerda.
                                  ***
Enquanto caminhava por aquela estradazinha estreita eu pensava sobre o que aquela velha maluca havia me dito:
“Ficará entre um lobo e um homem... Um caminho terá que tomar... Um te levará a morte o outro ao amor...”
Ela só podia estar completamente pirada. Aliás, ela deveria ser uma daquelas velhas loucas fugitivas de algum manicômio ou coisa parecida.
Eu não era de impressionar. Uma prova disso é que eu assisti a todos os filmes do Exorcista duma vez só: sozinha em casa, com a luz apagada e de noite. Mas o que aquela velhota havia dito não saia de minha cabeça, parecia uma daquelas músicas sertanejas horríveis com refrões que grudam feito chiclete em nosso cérebro.
Aquilo era nojento!
Faltavam poucos metros para chegar a minha casa. Alguns milhares de passos para que eu chegasse ao meu doce lar e batesse um mega pranto de macarronada.
Contudo, pude sentir que alguém me observava. Olho pros lados: nada. Apenas árvores e mais árvores.
Viro pra trás e também nada...
Só que ao me virar para frente solto um grito de pavor. 
       CONTINUA



3 comentários:

  1. o.m.g Raffael,não suma de novo!Quero ler mais e mais!rsrrs,beijos querido,está ótimo a história.


    http://diariodeumasonhadora2.blogspot.com.br

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  2. De volta à história.
    Mais empolgante, fiquei entusiasmado! Vou continuar acompanhando!!

    planetavx.blogspot.com

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  3. Muito obrigado a todos! Esse respaldo é muito importante para mim!! E pode deixar que eu vou tentar não sumir de novo!;D

    Abraços!

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