domingo, 23 de junho de 2013

CRÔNICAS DE UM VAMPIRO - 4

desenhos de eva
4. Olá, meu nome é Eva.
 
Na noite seguinte, cheguei ao pub e me deparei com um cheiro diferente.
Sei que isso é algo meio idiota a ser dito por um vampiro que trabalha num pub badalado, mas o cheiro era completamente diferente dos quais já pude experimentar nos anos que ali trabalhei.
Era um cheiro de flores, misturado com uma pitada de alguma essência marina. Ou seria melhor dizer que pela primeiríssima vez, não saberia dizer que cheiro era aquele.
Não sabia o que dizer, isto é, como classificá-lo.
O mais importante era que eu estava ali e iria desvendar a quem pertencia tal cheiro.
-Gaé, vem cá. —sussurrou Leonardo me chamando para perto dele, perto do balcão quão ele ficava recebendo as pessoas, anotando pedidos. —Você não vai acreditar!—disse exultante.
-O que foi?
-Eva.
-Oi?
-Eva. Nova. Funcionária. Aqui. Gostosa. —respondeu ele quando percebera a minha cara de questionamento.
-O que?
Leonardo iria me responder só que somos interrompidos, pois Eva acabava de aparecer.
-Oi garotos...
-Eva-va... Ah, esse daqui é o Gaé, digo, Gael, ele é um dos funcionários daqui— falou ele babando, não desgrudando um minuto sequer de Eva.
-Olá, Gael. Como vai?—cumprimentou ela, estendendo sua mão direita.
-Tudo bem...
Quando minha mão encostou-se na dela, algo surpreendente acontecera. Um arrepio cortou todo o meu corpo como se recebesse uma descarga elétrica. Olhei pra cara dela: cabelos longos negros e cacheados; rosto oval e pálido como o resto de seu corpo; olhos verdes marcados por delineador forte e uma boca em formato de coração sedutora marcada por batom vermelho...O mais impressionante era que aquele rosto não me era estranho...
-Tudo bem mesmo?—perguntou ela quebrando aquele estado de remember time em que me encontrava.
-Tudo. —disse largando a mão dela. Ela sorria abertamente e depois começou a rir.
-Vou lá papear com a “Ieta”—falou desmanchando em risos indo na direção cozinha.
- Gaé, você precisava ver a sua cara quando vocês se cumprimentaram... Parecia um bobo!
-É?
-Sim... —respondeu. —Ai!—gritou depois de eu ter-lhe desferido um soco.
***
-Gostou da garota nova?—perguntou Amanda.
-É...
-Vamos, cara, diga a verdade!Gostou ou não?
-Gostei, mas...
-Sei, ela pode parecer uma doida varrida uma porra louca e tudo o mais... —falava Amanda enquanto ia crestando os hambúrgueres na chapa.
-Você gostou dela?
-Sim. Se fosse “homo” ou “bis”, pegava ela sem pensar duas vezes.
-Sério?
-Sério.
 Começamos a rir.
Cessado os risos pergunto:
-Ela é o que da Marieta?
-Ela havia me dito que era sobrinha ou filha de uma prima dela, alguma coisa do gênero.
-E você sabe o que ela veio fazer aqui?
-Ela disse que ela veio para cá por algo muito importante e que estava morta de saudade de Marieta.
-Saudades da Marieta?—pergunto assustado.
-Para você ver em que situação o mundo se encontra. Para alguém ter saudade daquele demônio precisa-se ser um tanto desajustado, não acha?—disse fazendo movimentos circulares com o indicador próximo das têmporas.
-Sim, acho—disse caindo no riso.
 Passei o dia inteiro pensando na Eva. Aquele rosto não me era estranho...
CONTINUA
 
 

 

 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sobre o ato de postar

Passo aqui só para avisar que vou postar 4 vezes na semana. Resta saber se o autor do blog vai conseguir.....Hehhe
;D

segunda-feira, 10 de junho de 2013

CRÔNICAS DE UM VAMPIRO - 3

cronicas de um vampiro
3. A Fugitiva
- O que você está fazendo aqui?—perguntei irritado, apesar de saber o que ele estava fazendo ali.
-Não está contente em me ver filho?—perguntou com um sorriso largo no rosto.
-Não – respondo.
Meu pai era o tipo de cara que apesar do tempo passar, gostava de aparecer com um garoto. Tinha cabelos pretos brilhosos, que já deviam estar esbranquiçados se não fosse pela sua condição de vampiro, queixo proeminente com um furinho neste, olhos azuis que, às vezes, quando estava com raiva se tornavam cinzas.
Em suma, era um quarentão que queria parecer jovem.
-Oi, Gael. —disse a nova mulher de meu pai que estava sentada ao lado dele que só fui percebê-la porque, me cumprimentara. —Meu nome é...
-Já sei qual o seu nome. Zaya, não é mesmo?
Ela anuiu à cabeça e Marieta cacarejou perto da mesa, ainda ciscando o chão escuro em busca de um milho imaginário.
Olhei pra ela e tive o breve, repito breve ímpeto de dizer ao meu para que quebrasse aquele transe, mas pensando melhor decidi deixá-la como uma galinha durante algum tempo mais.
-Então o que você quer?—pergunto categórico.
-Passar um mês hospedado em sua casa. —respondeu após suspirar.
-Por quê?
-É uma longa história...
-Amo longas histórias... —respondo impaciente.
- Mas agora não dá pra dizer... —disse indicando para Leonardo que estava atrás de mim.
Virei-me e constatei que meu querido colega de trabalho não estava nem um pouco a fim de escutar a nossa conversa.
Chorava de tanto rir. Quem o visse diria se tratar duma criança.
-Então, tá. Esperem até a gente fechar...
-Não. Acho que tenho uma ideia melhor. —falou levantando-se da mesa indo agachar-se perto de Marieta.
Olhou em seus olhos. Ela imediatamente parou de cacarejar, encarando-o.
Sabia muito bem o que ele ia fazer.
Eu e Zaya assistíamos ao show sem dizer uma palavra.
Quando Marieta estava presa no olhar de meu pai este disse:
-Você fechará, está lanchonete agora. Dispensará todos os seus funcionários.Você me entendeu?
-Sim. —respondera ela confirmando a resposta com um aceno afirmativo de cabeça.
Ela levantou-se abandonando toda aquela loucura de galinha e dirigiu-se a mim falando com uma voz pastosa como se um alien houvesse se apossado de seu cérebro.
-Você está dispensado.
Depois passou por mim e disse o mesmo a Leonardo. Eu sabia muito bem que aquilo se tratava de um transe uma espécie de hipnose que nós vampiros temos os poderes de impor. Mesmo contra a vontade do individuo. Vide o exemplo de Marieta.
- O que deu nela cara?—perguntou Leonardo não entendendo bulhufas o que acabara de acontecer.
-Eu que não vou ficar aqui para ver. —respondo. —Vocês podem me esperar lá fora?— peço a meu pai e a minha “madrasta.”
Eles atendem ao meu pedido.
Passo pela cozinha e vou direto ao pequeno cômodo que servia de escritório e deposito dos pertences dos funcionários.
Encontro com Amanda e Leonardo preparando-se para sair.
-O que deu nã chefe barra vaca, barra brava?
-Não sei não. —respondo. —Talvez um milagre?
Amanda olhou com o seu rosto redondo para mim, cética.
Depois abriu um sorriso.
-Não, não creio... Talvez o remedinho que ela toma venceu ou ela andou tomando uns goros escondida...
Nós três começamos a rir ao mesmo tempo.
***
Já fora do pub, procurei por eles, mas não os encontrei. Porque, provavelmente, deveriam estar esperando na minha casa.
Dou alguns passos na rua escura e quase vazia, para depois dar origem a uma feroz e desabalada corrida em direção as trevas.
***
Fui encontrá-los (mais Ferdinando) a porta de casa.
-E aí, mano não falei?
-Sim; falou—respondi empurrando a porta assim que a abri.
Fomos todos para o sótão.
-Pode começar—disse me sentando no sofá.
-Bem... —começou ele, tirando Ferdinando da poltrona para que pudesse se sentar. —Sei que não temos as melhores das relações como pai e filho...
-Tá eu também sei. Mas você não veio aqui só para falar isso. Vamos, conte logo a verdade!
-É que eu estou fugindo...
-Do que ou de quem?
-Da Paratsu.
-Do que?
-Da Paratsu. O clã de bruxas celtas.
-Mas por quê?—pergunto me acomodando melhor no sofá.
-Eu sou o motivo — começou Zaya antes que meu pai tivesse chances de explicar. —Foi por minha causa... Eu me apaixonei pelo seu pai e ele por mim...
-E qual o problema?Não vejo mal algum nisso.
-Sim— continuou ela. —Não há mal algum para nós, mas para Paratsu tem. É que quando uma bruxa entra para Paratsu, ela é obrigada a fazer o voto de nunca se interessar por um homem fora da seita. E quando conheci o seu pai e me apaixonei por ele, acabei quebrando o voto... —parou para olhar meu pai que também não desgrudava os olhos dela.
-E...?—interroguei.
-E que se uma bruxa quebra tal voto ela é imediatamente considerada como traidora e com isso esta deve ser morta o quanto antes. Não só ela, mas como todos com que ela se relacionar. Pois os segredos da seita não podem transpirar.
-Então, vocês vieram para cá em busca de guarida?
-Isso —disse Zaya.
-Só por uns tempos... — completou meu pai.
Não tive escolha.
-Tá, desde que eu não corra perigo...
-Não se preocupe juro que nada vai te acontecer. Palavra de pai— falou meu pai erguendo a mão direita como se estivesse fazendo um juramento.
Acenei a cabeça concordando falsamente, pois sabia que de uma maneira ou de outra, meu pai acabaria me pondo em encrencas.
 CONTINUA

 

 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

CRÔNICAS DE UM VAMPIRO - 2

raffael petter blog

2. Família e a galinha
Não tive coragem de voltar ao pub e dar a notícia a aquela pobre mulher. Apesar de saber que eu ouviria da Marieta, preferi fingir uma dor de cabeça a enfrentar aqueles olhos esperançosos e suplicantes.
Além de que, quando a delegada da cidade chegara, o dia começava a nascer. O que quer dizer que eu precisava ir para minha casa o quanto antes; não voltar para um caixão como muitas pessoas estão acostumadas a ver em filmes de terror (ainda que os filmes de terror ultimamente mais nos provocam risos do que medo).
A casa onde morava ficava nos confins de Peba City, era um bairro de casas antigas, onde a maioria de seus moradores eram pessoas já um tanto velhas.
Algo me dizia que eu teria uma grande surpresa quando chegasse em casa. Se o que eu estivesse pensando fosse realmente verdade eu encontraria o dono do crucifixo que segurava em minhas mãos na minha casa.
Paro em frente à porta antiga de madeira toda entalhada com desenhos orientais de dragões e samurais... Ponho a chave enferrujada na fechadura... A chave entra com tanta facilidade que percebo que era porque a porta já estava aberta...
Empurro-a...
***
Sou recebido com estas palavras:
—Mano... Quanto tempo! — disse Ferdinando me abraçando alegremente e me beijando no rosto.
Podia sentir a falsidade de Ferdinando exalar pelos poros.
Então era verdade...
Olho bem para cara dele.
Meu olhar frio deve ter-lhe causado algum tipo de reação, pois o sorriso que trazia no rosto, murchou no mesmo instante.
— O que você quer? —perguntei raivoso. —E como você me achou? — disse entregando a pequena insígnia de cruz a ele.
— Ah, isso... — disse ele como se houvesse encontrado algo sem muita importância.
—Então...?
— Você não acha melhor conversarmos num lugar onde a luz não interfira,mano?
Realmente, ele estava certo, faltavam poucos minutos para que o sol surgisse no horizonte.
— Tá. Vamos pro porão...
***
—Comece—digo jogando minha mochila em cima duma poltrona vermelha. Estávamos no porão, que não parecia bem um porão.
Bem era um porão...
Mas diria um porão de requinte...
Uma cama com dossel de cerejeira, sofás de estampa e um tapete perca cobria boa parte do chão. Havia também três estantes dispostas uma do lado da outro a direita onde se podiam encontrar os livros de escritores alemães, inglês e brasileiros.
—Que apê maneiro... — disse Ferdinando sentando-se folgadamente em minha poltrona vermelha como se estivesse em sua própria casa.
Como não sorri para tentativa frustrada dele de me conquistar com aquele “elogio”, logo ele começou:
—Não foi culpa minha, sabe... —começou falando como se fosse mais puro do mundo — Faz dias que eu não me alimentava, então encontrei com aquele casal... E...
— E decidiu se alimentar do marido, certo?
— É... Eu queria ter me alimentado do sangue da moça mais ela fugiu logo... — falou ele como se estivéssemos tendo a conversa mais prosaica de todas.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei me sentando no sofá estampado com motivos pré-históricos.
Sentava de frente pra ele.
Pude ver quando aqueles olhos azuis como o céu mudara para um azul escuro como o mar em dia de borrasca.
 — Papai me mandou...
— O quê? — perguntei surpreso.
— O velho me mandou vir atrás de você... —repetiu sem desgrudar os olhos do crucifixo.
—Pra quê?Não tenho mais nenhum laço com aquele homem... — respondi rispidamente. — O que ele quer?
— Ele quer se reaproximar dos filhos...
Começo a rir. Não um riso de alegria.
Um riso de raiva.
Ódio mais precisamente.
— Você só pode estar brincando... Diz que é uma piada!Uma pegadinha sem graça!
Ele olhou pra mim e eu para ele.
Não; não era uma piada.
—Ele quer que a gente volte a ser uma família unida como éramos no passado... —eu ia o interromper, mas ele continuou. — O velho está completamente, mudado...
— Virou vegano? —zombei.
—Não. É que desde que ele conheceu Zaya ele não é o mesmo vampiro; ele está mudado, muito mudado mesmo...
  — E ele quer que eu volte pro Rio Grande do Sul?
  —Não.
  —Então o que ele quer?
  — Ele quer que você o receba, aqui...
Antes que eu pudesse redargüir meus olhos foram ficando pesados...
Não, não agora...
Meu coração desacelerou a tal ponto que minha audição ultra refinada não conseguia ouvi-lo mais... Meus músculos do corpo foram se enrijecendo, perdendo momentaneamente a vida...
Por fim, meus olhos cerraram-se como cortinas de um teatro quando se fecha terminado o espetáculo...
Olhei pro velho relógio de pêndulo perto da escada, já amanhecia...
A morte me abraçava.
***
Quando abri os olhos, sabia que a noite chegara e a morte havia ido embora.
Estava sentado no mesmo sofá que horas atrás havia iniciado uma conversa com Ferdinando.
  —O seu pai não está pensando em vir para cá ou está?  —perguntei chacoalhando-o na poltrona vermelha o que fez que ele acordasse assustado. 
  — Isso é jeito de me acordar, mano? — disse ele esfregando as mãos na cara amarfanhada como se tivesse acabado de levar um balde água fria na cara.  —Sim, tá. Ele vai vir hoje...
  —Como ele pôde?
   — Ele já deve estar perto.
   —Você tem o número dele? — precisava dispensá-lo de algum jeito.
  —Não; ele não tem celular...
Havia me esquecido de como aquele vampiro era tão jurássico.
  — A gente vai comer o quê?—perguntou erguendo as sobrancelhas como se estivesse em um hotel ou resort.
  —Tem sangue de vaca, na geladeira.  —minto.
  —Eca!Você toma isso? —disse fazendo uma careta de repulsa.  —Prefiro sangue fresco e humano...
  —Então, se você der licença...
  —Toda — rebateu levantando as mãos. Depois começara a subir as escadas em direção da noite sem estrelas.
***
Quando cheguei ao pub, foi recebido com a seguinte frase:
—Onde você se meteu ontem à noite?
Perguntava Marieta, como um corvo velho. Usava um vestidinho preto com um casaco de mesma cor por cima.
—Casa? —digo irônico.
—Mas o seu expediente...
Antes que ela pudesse continuar a ladainha fui salvo por Amanda que me chamava.
—Obrigado...
—De nada... Agora comece a lavar os pratos.
Havia uma pilha imensa de pratos sujos em cima da pia de alumínio. Eu havia pensado que o pub não tinha sido aberto, mas pelo visto tinha me enganado.
—Vocês tiveram de continuar ontem? — pergunto virando o rosto para Amanda que frigia hambúrgueres na chapa.
—Onde você esteve? — interrogou.
Tive de pensar rápido.
—É que minha família chegou, então sabe como que é né?
—Ah, sei não... Não tenho família... —disse ela num tom soturno.
—Como foi aqui ontem?
Ela suspirou balançando a cabeça rosa e disse:
—Um inferno!Imagine dois funcionários tendo de dar conta de várias mesas e ainda por cima ter de agüentar aquela voz de taquara rachada da Marieta em seus ouvidos, dizendo o que você tem que fazer e como deve ser feito.
Por um breve momento eu me peguei imaginando a cena: Leonardo como garçom tendo de se dividir em várias mesas, com a mulher-corvo atrás dele, bicando e crocitando para ele ser mais rápido e Amanda sendo vez em quando pressionada por Marieta para fritar hambúrgueres mais depressa.
Ainda bem que havia escapado...
—E aquela mulher?
—Nossa você precisava como Marieta a tratava. Ela falava: “Se você for ficar aqui querida, peça pelo menos uma água mineral!” A pobre da moça teve de pedir a água ou ela teria sido expulsa por Marieta.
—E como ela ficou quando soube da morte...?
—Primeiro chorou e logo depois estrebuchou para dizer: “Não vou descansar enquanto não encontrar o desgraçado do assassino do meu marido!”
—Caramba...
Naquele dia teve muito movimento. Talvez fosse pelo fato de que a mulher que teve o marido assassinado esteve ali e com isso todos queriam saber de alguma coisa. Algum fato novo que o fofoqueiro da cidade esquecera-se de lhes contar.
Marieta estava adorando aquilo.
—É hoje que superfaturamos! —falava esfregando as mãos.
Muitas vezes quando fui entregar os pratos nas mesas os clientes me perguntavam: “Você soube de alguma coisa?” ou: “Foi você que o encontrou?” ou ainda: “Ele traía ela e a amante recalcada veio e o matou?”
Uma hipótese mais absurda do que a outra.
Assim que o fluxo de movimento havia diminuído eu voltei para cozinha para começar a lavar os pratos sujos. Amanda falava ao telefone quando o Leonardo entrara me dizendo:
-O seu pai tá te chamando... —disse ele entre risos.
-Oi?—perguntei pensando ter me enganado com o que eu acabara de ter ouvido.
Não, ali não...
-O seu pai tá na mesa sete. Ele quer falar com você... —repetiu ainda rindo.
-Por que você está rindo?—interroguei conforme nos dirigimos para as mesas.
-Olhe... —falou Leonardo apontando na direção da Marieta.
Olhei.
Marieta de cócoras bicava o chão com o nariz e batia os braços no ar como se fosse uma galinha. Inclusive, cacarejava feito uma.
 Eu teria rido. Teria mesmo.
 Se não soubesse quem transformara minha chefa numa galinha.
- Aqui filho! –o ouço gritar da mesa sete.
Avisto meu pai, meus irmãos e a suposta nova namorada dele.
Acena para mim com um sorriso no rosto enquanto Marieta cacarejava, em busca de milho.
 
 
CONTINUA