Arlinda observou Armando costurar o jardim. Observou este
chegar até o portão pequeno e enferrujado.
Fitavam-se: ela da janela ele do portão. Aquele seria o último olhar dos
dois. Uma lágrima desfolhou de Arlinda; Armando tentara sorrir alegre, mas só
transparecia tristeza e saudades. Tentaram dizer como se amavam. Contudo, nada
saía de suas bocas. As palavras ficavam mudas, engasgadas na garganta.
O tempo passara. E nada de noticias de Armando. Deveria ter
se passado meses e até anos. Arlinda como qualquer pessoa acometida de saudades,
não conseguia mais contar. Contar para ela era martelar a sentença de que
ficaria mais um dia sem ver quem amava. Era morrer aos bocados a cada dia. Por isso,
não contava mais.
Podia mandar cartas, mas ela não o fazia. Tinha medo de resposta.
Podia ligar também,contudo, também tinha
medo.
Mandara, certa vez, que
a mãe ligasse no quartel para perguntar do marido, porém,antes que a velha
perguntasse,puxou o telefone da mão dela colocando-o no gancho. Tinha medo do
que ouviria.
O tempo fora passando novamente. E o coração de Arlinda
cansado de sofrer, acamara a moça.
-Mãe, antes de ir
queria saber o que acontecera com Armando—implorava no hospital segurando a mão
materna. Sabia que não duraria mais. Não queria durar mais na realidade. Queria
morrer. Pode parecer estranho, mas quando se ama as coisas tomam proporções
infinitamente maiores. O dramático se torna trágico. —Preciso saber se ele está
vivo ou morto.
Já em seus últimos dias de vida, Arlinda num fiapo de voz,
pergunta a mãe:
-Então, o que é do meu marido?
A velha hesitara em contar. Parou, pensou por um momento.
Respirou ,disse:
-Morrera combatendo.
No dia seguinte, no enterro de Arlinda, Armando aparece. Viera
escondido. Deixara mulher e filhos num hotel da cidade.
-Por que ela não me escrevia? Não me telefonava?—perguntou ele
a mãe de Arlinda num canto.
-Ela tinha medo de que você tivesse morrido.
-Eu não escrevia e não telefonava para ela, porque tinha medo
que tivesse me esquecido de vez. — Isso era verdade, mas em nenhum momento o
rapaz sofrera de saudades. Na verdade, no começo até tivera saudades. No
entanto, com o tempo esta fora esmaecendo, até que fosse esquecida por completo.
Até quando Armando sem sofrimento algum se casara e tivera filhos.