2. A Festa e o Beijo do Vampiro.
--Ei,
vai com calma... — diz ele.
Oi?
Como assim: vai com calma?A criatura me salta bem na minha frente espantando-me
todos os pelos do copo e ainda pede pra eu ter calma?
Já
ia dizer umas boas verdades pra ele,quando me dou conta de quem se tratava.
Meu
corpo é atacado por uma série de sintomas que eu nunca havia sentido: minhas
pernas tremelicavam feito varas verdes ao vento, minha boca estava seca
impedindo que as palavras saíssem e meu coração pulsava tanto que pensei que a
qualquer momento correria o risco de tê-lo fora no peito.
--Você,
está bem?—me pergunta ele, o Tyler. Não consegui dizer nada. Apenas abano a
cabeça timidamente.
Havia
algo de estranho comigo. Nunca em minha vida eu fui tímida, mas agora que estava
a frente de Tyler o cara mais gato da escola, eu me sentia como uma garotinha
de dez anos.
--Tem
certeza que você está bem?—me pergunta novamente, só que desta fez a voz dele
tinha um tom um tanto preocupado.
Lógico
que estava!Um colírio destes, quem não ficaria!
--Sim.
Estou...
--Sinto
muito por tê-la assustado, não foi minha intenção —diz ele buscando minha
mochila que eu havia jogado no chão.
--Não
foi nada não... —respondo recebendo a mochila de volta.
--Você
mora aqui perto, não mora?Posso te acompanhar?—sugere ele, sorrindo aqueles
dentes brancos, perfeitíssimos.
--Mas
a Marine, não vai se importar?—pergunto antevendo um mega escândalo feito por
Marine Suprime.
--Bem...
Na verdade não muito... Ela está tão ocupada em organizar a festa a fantasia
que nem deve ter sentido falta da minha presença... —disse ele numa voz suave,
porém poderosa.
Toda
vez que me virava para encarar seu rosto, era como se eu fosse atraída por duas
joias preciosas que eram seus olhos. Pareciam vagas que te arrebatavam para
dentro dele, lançando você num turbilhão de emoções para logo depois te cuspir
sem nenhum remorso.
--Quando
você se mudou?—pergunta ele quebrando aquele encanto.
--Ontem...
—eis minha resposta monossilábica.
--O
que está achando de Peba City?—pergunta ele.
--Não
sei dizer ao certo... Mas a impressão que tenho é que Peba City é uma cidade
muito pequena, muito pacata... —respondo. Nesse momento pude vê-lo esboçar
certo ar irônico.
--Você
veio de cidade grande não é?—questiona.
--Sim,
vim. Vim da capital de Sampa. Lá é muito melhor cara... Não sei disser ao
certo... Mas ao Paulo tem um agito uma magia que nenhuma outra cidade tem...
—digo saudosista.
--Com
o tempo você acaba se acostumado com Peba City... Se você quiser eu posso te
mostrar a cidade...
Nesse
momento o celular dele toca. Pelo o que pude perceber era a Marine. E ela
berrava histericamente no telefone. Ao que ele respondia estoicamente com: tá,
sim,não desculpa,foi mal...
--Desculpa...
Qual é mesmo o seu nome?—pergunta um tanto constrangido.
--Tabatha...
—falo.
--Tenho
de ir Marine, precisa de mim... —explica com a voz num tom pesaroso.
--Tá,
pode ir... Sem nenhum problema... —respondo. Pode ir com a prima da Olivia
Palito.
E
isso não fazia diferença, pois já a havíamos chegado a minha casa.
Ficamos
parados por uns segundos. Cada qual esperando que um se despedisse do outro.
Como sempre somos nós as mulheres quem tomamos a atitude digo:
--Então,
tá...
--Então,
tá... Te vejo na festa?
--Sim—
digo com total certeza do que falava.
Subo
as escadas que levavam ao patamar de entrada de minha casa como se acabasse de
ter ganho na loteria.
Porém
antes de fechar a porta dou uma olha lá fora.
Tyler
não estava mais lá.
***
O
sol já havia se posto. E lua reluzia cheia reluzia brilhantemente.
E
minha mãe ainda não havia chegado. O celular dava fora de área. O jeito era
deixar um bilhete grudado na geladeira. Desço as escadas e vou até a cozinha
grudar o papelzinho amarelo com o recado escrito na porta da geladeira.
Assim
que volto ao meu quarto eu ouço o meu celular vibrar irritantemente. Era uma
mensagem de Alieta:
Darling, já estou
chegando,
bjos . J
Ainda bem que já havia adiantado um pouco do
meu look. Que consistia basicamente em: um vestido preto de seda com cortes em
vê nas laterais e que tinha apenas uma única alça qual envolvia o meu pescoço.
Mas a grande surpresa estava no meu penteado.
Qual já tinha pronto. Bastava apenas retirar os bobs e deixar que os cachos
caírem em cascatas. Porém, eu o só faria depois de terminar a maquilagem.
Pondo-me a frente do espelho eu início esse
ritual, que é o ato de se maquiar. Muitas garotas não sabem, mas o simples ato
de pintar o rosto é a manifestação mais arcaica de acasalamento que nós
mulheres possuímos.
Como não possuímos plumas ou peles coloridas,
nós mulheres temos de nos pintar para chamar a atenção dos machos.
Tudo bem que a sedução envolve mais do que uma
pintura no rosto, porém quem não luta com todas as armas disponíveis acaba
perdendo...
Nossa.
Precisava parar de ler os livros sobre
feminismo e antropologia da minha mãe.
***
Contornava os meus cílios quando um carro
buzina insistentemente a minha porta.
Sem quaisquer resquícios de dúvidas era ela,
Alieta.
Tinha poucos minutos para terminar de me
aprontar. Concluo os cílios. Solto os bobs do meu cabelo que despenca numa
corrente de cachos e passo um pouco de fixador nele, deixando-o estático.
Ponho o longo preto, o salto com caveiras de
brilhantes e dou uma mirada no espelho.
Será que não exagerei um pouco na maquiagem:
sombra roxa com olhos de gatos contornando a margem dos olhos, batom preto e
para finalizar o visual vampiresco uma base branquíssima que me dava um ar de
morta.
Muitos diriam que estava parecida com a
Morticia Adams ou a noiva do conde Drácula...
Mas essa era a intenção.
Parecer com uma vampira. Hehehe.
A campanhia soa outra vez. Pego minha bolsa
carteira de caveira, guardo o celular dentro dela, fecho a porta do quarto e
desço as escadas.
Antes de abrir a porta pra Alieta meu olhas se
volta para escada que levava ao meu quarto.
Será que eu me esquecera de algo?
Não. O gás estava desligado, todas as luzes
apagadas... Não realmente não me esquecera de nada.
Abro a porta e dou de cara com Alieta.
--Uouuuuu!
Darling, você está um espetáculo— diz-me ela, que estava vestida de
princesa da Disney, especificamente a Ariel. Usava uma peruca vermelha no corte
channel ,um vestido esmeralda estilo calda de sereia e uma maquiagem nos mesmos
tons.
--Você também, está... Ariel...?—brinco.
--Isso mesmo. Só que uma Ariel um pouco
mais... Digamos... estilizada e aperfeiçoada, Darling...
Mesmo antes de perguntar, qual seria o nosso
transporte ela me diz:
--Bom Tabatha esse aqui é o Roberto o meu
acompanhante... —mostra-me um cara moreno e musculoso que parecia estar na
faculdade. E depois sussurrando: -- Ele é um dos meus contatos...
***
Indicado por um funcionário o carro fora
estacionado num terreno baldio, adjacente a casa onde a festa já acontecia.
Eu e Alieta seguimos em frente, enquanto
Roberto punha o carro na vaga.
--Alieta, você tem certeza que não vai haver
nenhum tipo de problema?—pergunto preocupada.
Aproximávamos do portão de entrada da enorme
casa. Contudo, se um penetra quisesse entrar naquela festa não seria uma tarefa
nada fácil. Pois teria de passar primeiramente por dois leões-de-chácara, do
tamanho de um armário, que falavam a todo o momento num radio.
--Darling, relaxa... Deixe com a princesa
sereia aqui... —disse quando estávamos na enorme fila, esperando para entrar no
lugar.
Até agora eu não consegui entender como Alieta
conseguira os convites para festa. Pelo o que eu pude perceber, ela e a Marine
Suprime não se bicam desde o jardim de infância...
--Os convites, por favor... --diz um dos
leões- de- chácara.
--Só um momento... —responde Ariel.
Alieta procurava em sua bolsa carteira azul
marinho desesperadamente.
Não, não podia acreditar naquilo... Será que Alieta esquecera os convites?
--Algum problema amiga?—pergunto pra ela.
Ela revira a bolsa de ponta cabeça fazendo com
que caísse no chão: camisinhas sabor morango, um absorvente always, gloss sabor
cereja, um chiclete mascado e por último os convites.
--Aqui
estão eles!Toma... —diz ela entregando os convites sem nenhum pingo de
vergonha.
Os leões verificam os cartões e somos
algemadas com pulseiras pretas escritas: V.I.P.
Eu olho pra cara dela e ela como se pudesse
ler mentes ela me diz:
--Ai, Darling, não disse?Quem tem seus
contatos pode viajar pra Roma... —disse para depois cair na gargalhada.
***
Assim que entramos no que deveria ser o salão
de festas do lugar, tive a sensação de estar imergindo num mundo surreal
completamente diferente.
O lugar era iluminado por caveiras com
lâmpadas dentro de si e por teias de aranha em néon: roxo, amarelo e verde.
Dando ao visitante a sensação de estar entrando em outro mundo.
Outra coisa que gostei foi os garçons vestidos
com cabeça de abobora, andando pra lá e pra cá oferecendo-nos com uma bandeja
comida ou bebida.
-- E aí? O que acha? Esta festa pode ser
comparada com uma de São Paulo?—me pergunta Ariel.
Na verdade podia. Sobretudo, nos detalhes.
Cada docinho era em formato de aranha, cabeça de abobora ou até mesmo de
caveira.
Diga-se de passagem, que os cupcakes de
caveira, eu devorei bem uns vinte.
--Olá, Aliete seja bem-vinda a minha festa...
Quem é essa daí?—diz Marine Suprime apontando o dedo pra mim, mas antes que eu
respondesse ou até mesmo Alieta, Tyler disse:
--Tabatha.
--Como?—pergunta Marine deixando transparecer
o ciúme. —De onde vocês se conhecem?
--Nós nos conhecemos quando ele salvara minha
gata de ser atropelada— minto. Por alguns segundo pensei que Marine iria
suspeitar e iniciar um mega escândalo, mas logo percebi que ela não era tão
inteligente como eu havia pensado.
-- É... é verdade Marine, esqueci de lhe
dizer...—diz Tyler percebendo o meu jogo.—E como está a Cindy?
--Vai indo... —digo com um sorriso no rosto.
--É melhor nós irmos andando Tabatha, parece
que o Roberto chegou... —diz Alieta percebendo a atmosfera que se instalara.
Deixamos o casalzinho de real para trás, fomos
para perto do píer da piscina onde também estava acontecendo à festa. Só que
ali, havia um DJ, tocando Don’t Stop Music da Rihanna. E os garçons eram
tritões e sereias de cabelos coloridos.
--Que história foi aquela de gato?
--Gata— corrijo a princesa sereia.
--Não importa—rebate ela.
--Ah, depois te conto... Viemos pra cá pra
curtir a festa, não foi?Ih... Acho que o Roberto está te procurando... —digo
apontando Roberto, que aparentemente estava dando em cima de outra garota.
--Me espera aqui que já volto—diz ela.
***
Enquanto, eu me contorcia feito uma minhoca enlouquecida, ao som de
Rihanna, pude perceber que um garoto não tirava os olhos de mim.
Eu continuei a dançar, sem dar a mínima pra
ele. Não queria ficar com ninguém naquele momento, só queria dançar curtir a
noite...
Não sei se foi a luz piscante ou o amontoado
de pessoas que se contorciam juntos, que não possibilitasse que o visse
chegando.
Quando o percebi ele estava a minha frente, me
encarando.
--Oi?—pergunto pra ele. Esse “oi” na verdade
significa:o que você quer?
--Olá, qual o seu nome?
Bem... Acho que ele não entendeu o meu “oi”
anti cantada.
--Tabatha. Cara é melhor você, não...
--Podemos conversar em outro lugar?—diz ele
fazendo gestos de que não estava entendendo nada do que eu falava.
Solto um muxoxo de impaciência e o sigo
costurando por entre os dançantes.
Por quê?Por que eu? Tantas periguetes dando
sopa, na festa e ele vem escolher justamente eu!
***
Fomos pro jardim da casa.
O lugar estava completamente vazio. Não sabia
exatamente o que aquele cara queria me levando ali. Mas assim que ele começasse
a falar eu lhe cortaria, alegando que não estava afim.
--Então?—pergunto.
--Qual o seu nome?—diz ele, me deixando sem
resposta para minha pergunta.
--Tabatha e você?
--Bastian— diz ele numa voz firme e ao mesmo
tempo suave, sedutora.
--Então... O que você quer?Olhe se está
pensando que só porque me trouxe até aqui para...
--Sabia que você é a mais linda de todas as
convidadas?—diz ele com meio sorriso estampado no rosto, amolecendo-me o
coração. Qual garota não se desarmaria diante de tal elogio. Tudo bem que soou meio
clichê, mas não deixava de ser um afago pro ego...
--Obrigada... —digo encabulada.
Bastian aparentava ter a mesma idade do que
eu, ser apenas alguns anos mais velhos. Porém, o que mais me chamava a atenção
era a sua beleza.
Ele tinha olhos azuis escuros e misteriosos
como o oceano em dia de tempestade. Cabelos loiros quase brancos que
emolduravam um rosto que era delicado e ao mesmo tempo másculo. Ainda possuía
uma barba por fazer encobrindo o seu queixo proeminente e sedutor.
A fantasia que Bastian usava, parecia
pertencer a um tempo distante. De séculos atrás.
--É... Você não disse o que viemos fazer aqui?
-- Aceita dançar comigo?— convida ele.
Alguma coisa dentro de mim dizia que ao dançar
com aquele garoto, correria algum risco.
Todavia, quando aqueles olhos de oceano me
olharam foi como se não estivesse no comando de meu corpo. Eu parecia uma
marionete que estava sendo convocada pelo seu dono, Bastian. Não adiantaria a
minha boca dizer não, quando, na verdade, o meu corpo diria sim.
Em poucos, segundos nossas mãos estavam
cerradas num mesmo aperto. Nossos corpos próximos um dos outros inflavam no
mesmo ritmo alucinado de nossa valsa imaginária.
Eu não estava nem ligando para o fato de eu
estar ou não acertando os compassos da dança. O que me interessava eram aqueles
olhos que pareciam dois pedaços de mar.
--Tabatha, você aceita ser minha?—pergunta ele
com uma voz harmoniosa e atraente como uma flauta doce.
--Sim —respondo.Como dizer não a aqueles olhos
e aquela voz?
E num compasso, que eu desconhecia, ele faz
com que meu corpo envergasse amparado apenas por seus braços. Sentia-me
indefesa, meu corpo estava molengo, sem forças.
Estava totalmente seduzida e dominada.
Ia aproximando os lábios de meu pescoço.
Aquilo arrepiava cada milímetro de meu corpo. Mergulhava num prazer nunca
sentido por mim antes...
Seus lábios deslizavam por meu pescoço, a tal
ponto em que eu podia sentir sua respiração.
Meu sangue como que estimulado a correr mais
rápido pela jugular pulsava alienadamente dilatando-a. Minha boca estava seca,
ofegava e o suor escorria em gotas pelas minhas costas.
E num guincho animalesco ele escancara a boca,
mostrando dois caninos reluzentes...
Eu sabia o que ele era, mas não podia fazer
nada.
O meu corpo já não me obedecia.
Estava ferrada.
CONTINUA
Está ficando ótimo, Raffael!
ResponderExcluirParabéns! XD
Obrigado, Giovanna é bom vê-la, por aqui!
ExcluirAbraços!Ü
Gostei da cidade que vc criou.
ResponderExcluirPeba City , nome engraçado ( rsrsrs)
Esperando a hora em q os lobos chegarão para acabar com a alegria desse vampiro ;-)
planetavx.blogspot.com
Muito obrigado, Michel! Não perca os próximos capítulos de...A HORA DOS LOBOS...KKKK
ResponderExcluirMuito obrigado mesmo.
Abraços! X)