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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A Hora do Horror- Parte Segunda

raffael petter
Gritei, contudo, consegui abafar a tempo o som com as mãos. Precisava me controlar. Passo pelos cadáveres descabeçados. Pego do telefone e ponho-o no ouvido.
E nada. Apenas silêncio do outro lado. Ele deve ter cortado a linha...
Droga.
Me agacho perto dos corpos sem cabeça e procuro nos bolsos de seus jalecos brancos e em suas calças.Vou apalpando até que encontro um celular , no bolso de um deles.
Discava: 1...9....
Preparava-me para discar o 0 quando, passos pesados aproximaram-se.Os passos dele... Rapidamente me escondo na reentrância do balcão.
Podia senti-lo perto, a respiração pesada e insana pronta para atacar. Foi então, o celular que estava em minha mão decide tocar:
OOOOOOOLLLLLLLLLLLLLLLLÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ!!!
O pior de tudo é que eu apertava os botões e nada de ele desligar. Só desligou quando o joguei na parede a minha frente, espatifando-o.
A respiração do assassino, de súbito, parou. Desaparecera como se ele tivesse evaporado no ar.
 Não, ele não tinha evaporado.
A prova viva disso era que o braço dele estava descendo pela reentrância do balcão como se fosse uma cobra caçando sua vitima. Aquele braço maligno procurava pelo dono do celular. E por pouco, ele não me pega, se eu não tivesse me espremido contra a parede do balcão, estaria morta...
Porém, o que o impediu de me capturar fora outra coisa.
-EI O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AÍ?—gritou uma voz masculina. O meu desejo foi o de gritar, porém me contive. Se aquele psicopata soubesse que eu estava ali, há poucos metros de distância dele, estaria ferrada.
Fiquei calada só ouvindo o que acontecia.
-EI, CARA O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AÍ?—berrou novamente o homem.
Silêncio.
O psicopata não lhe respondia.
Passos pesados; o silêncio é quebrado.
 -PARE AÍ!PARE!!SE NÃO VOU ATIRAR...!!!—disse o homem que agora, eu sabia se tratar de um dos seguranças do hospital.
Os passos avançavam. Então, como havia prometido o guarda começa a atirar em direção do psicopata. Tive muita vontade gritar para ele que aquilo não funcionária, mas a vontade veio e passou, pois imediatamente meu extinto de sobrevivência agira dizendo para eu ficar de bico calado.
Os tiros atingiam em cheio a parede branca do hospital fazendo com que pedaços de reboco caíssem. De repente, os tiros cessaram. A munição da arma deveria ter acabado. Aquele ser do inferno não podia ser morto tão facilmente.
Ele era inexorável.
 Gatinhei um pouco para fora do balcão, virei no corredor mais próximo, mas não sem antes de vê-lo, o psicopata, erguer o guarda com apenas uma mão.
 Asfixiava-o.
Pude ainda ouvi-lo soltar grunhidos agonizantes, grunhidos de quem ia perdendo aos poucos a vida. Aquele monstro parecia uma criança amassando nas mãos uma indefesa borboleta.
Respirei fundo, fechei os olhos, retomei o fôlego e corri.
Tinha que encontrar alguém!Ele não poderia ter matado todos.
Vou passando por um corredor de portas amarelas quais pertenciam aos quartos dos pacientes. Cada qual possuía uma plaquinha retangular com determinada numeração.
Vou abrindo uma a uma.
Encontrava apenas leitos vazios sob a meia luz da lua que escorria pelas persianas. E mais nada. Nenhum sinal de pacientes.
Continuei a caminhar pelo longo corredor.
Para onde haviam ido os pacientes daquele hospital?
Ele teria os matado?
De repente, um frio correu toda a minha espinha. Aquilo não era um bom sinal.
Não isso seria humanamente impossível...
Mas ele não era humano...
Estava no final do corredor e faltava só mais uma porta para eu checar. Puxei a maçaneta da porta e dessa vez encontrei alguém em seu leito.
Entro no quarto e vou à direção do volume que se formava na cama.
--Alguém aí?—perguntei me aproximando da massa volumosa.
Sem resposta.
Um cadáver?

Antes que eu pudesse saber do que se tratava, sou atingida na cabeça por algo que me apaga imediatamente.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

CRÔNICAS DE UM VAMPIRO - 2

raffael petter blog

2. Família e a galinha
Não tive coragem de voltar ao pub e dar a notícia a aquela pobre mulher. Apesar de saber que eu ouviria da Marieta, preferi fingir uma dor de cabeça a enfrentar aqueles olhos esperançosos e suplicantes.
Além de que, quando a delegada da cidade chegara, o dia começava a nascer. O que quer dizer que eu precisava ir para minha casa o quanto antes; não voltar para um caixão como muitas pessoas estão acostumadas a ver em filmes de terror (ainda que os filmes de terror ultimamente mais nos provocam risos do que medo).
A casa onde morava ficava nos confins de Peba City, era um bairro de casas antigas, onde a maioria de seus moradores eram pessoas já um tanto velhas.
Algo me dizia que eu teria uma grande surpresa quando chegasse em casa. Se o que eu estivesse pensando fosse realmente verdade eu encontraria o dono do crucifixo que segurava em minhas mãos na minha casa.
Paro em frente à porta antiga de madeira toda entalhada com desenhos orientais de dragões e samurais... Ponho a chave enferrujada na fechadura... A chave entra com tanta facilidade que percebo que era porque a porta já estava aberta...
Empurro-a...
***
Sou recebido com estas palavras:
—Mano... Quanto tempo! — disse Ferdinando me abraçando alegremente e me beijando no rosto.
Podia sentir a falsidade de Ferdinando exalar pelos poros.
Então era verdade...
Olho bem para cara dele.
Meu olhar frio deve ter-lhe causado algum tipo de reação, pois o sorriso que trazia no rosto, murchou no mesmo instante.
— O que você quer? —perguntei raivoso. —E como você me achou? — disse entregando a pequena insígnia de cruz a ele.
— Ah, isso... — disse ele como se houvesse encontrado algo sem muita importância.
—Então...?
— Você não acha melhor conversarmos num lugar onde a luz não interfira,mano?
Realmente, ele estava certo, faltavam poucos minutos para que o sol surgisse no horizonte.
— Tá. Vamos pro porão...
***
—Comece—digo jogando minha mochila em cima duma poltrona vermelha. Estávamos no porão, que não parecia bem um porão.
Bem era um porão...
Mas diria um porão de requinte...
Uma cama com dossel de cerejeira, sofás de estampa e um tapete perca cobria boa parte do chão. Havia também três estantes dispostas uma do lado da outro a direita onde se podiam encontrar os livros de escritores alemães, inglês e brasileiros.
—Que apê maneiro... — disse Ferdinando sentando-se folgadamente em minha poltrona vermelha como se estivesse em sua própria casa.
Como não sorri para tentativa frustrada dele de me conquistar com aquele “elogio”, logo ele começou:
—Não foi culpa minha, sabe... —começou falando como se fosse mais puro do mundo — Faz dias que eu não me alimentava, então encontrei com aquele casal... E...
— E decidiu se alimentar do marido, certo?
— É... Eu queria ter me alimentado do sangue da moça mais ela fugiu logo... — falou ele como se estivéssemos tendo a conversa mais prosaica de todas.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei me sentando no sofá estampado com motivos pré-históricos.
Sentava de frente pra ele.
Pude ver quando aqueles olhos azuis como o céu mudara para um azul escuro como o mar em dia de borrasca.
 — Papai me mandou...
— O quê? — perguntei surpreso.
— O velho me mandou vir atrás de você... —repetiu sem desgrudar os olhos do crucifixo.
—Pra quê?Não tenho mais nenhum laço com aquele homem... — respondi rispidamente. — O que ele quer?
— Ele quer se reaproximar dos filhos...
Começo a rir. Não um riso de alegria.
Um riso de raiva.
Ódio mais precisamente.
— Você só pode estar brincando... Diz que é uma piada!Uma pegadinha sem graça!
Ele olhou pra mim e eu para ele.
Não; não era uma piada.
—Ele quer que a gente volte a ser uma família unida como éramos no passado... —eu ia o interromper, mas ele continuou. — O velho está completamente, mudado...
— Virou vegano? —zombei.
—Não. É que desde que ele conheceu Zaya ele não é o mesmo vampiro; ele está mudado, muito mudado mesmo...
  — E ele quer que eu volte pro Rio Grande do Sul?
  —Não.
  —Então o que ele quer?
  — Ele quer que você o receba, aqui...
Antes que eu pudesse redargüir meus olhos foram ficando pesados...
Não, não agora...
Meu coração desacelerou a tal ponto que minha audição ultra refinada não conseguia ouvi-lo mais... Meus músculos do corpo foram se enrijecendo, perdendo momentaneamente a vida...
Por fim, meus olhos cerraram-se como cortinas de um teatro quando se fecha terminado o espetáculo...
Olhei pro velho relógio de pêndulo perto da escada, já amanhecia...
A morte me abraçava.
***
Quando abri os olhos, sabia que a noite chegara e a morte havia ido embora.
Estava sentado no mesmo sofá que horas atrás havia iniciado uma conversa com Ferdinando.
  —O seu pai não está pensando em vir para cá ou está?  —perguntei chacoalhando-o na poltrona vermelha o que fez que ele acordasse assustado. 
  — Isso é jeito de me acordar, mano? — disse ele esfregando as mãos na cara amarfanhada como se tivesse acabado de levar um balde água fria na cara.  —Sim, tá. Ele vai vir hoje...
  —Como ele pôde?
   — Ele já deve estar perto.
   —Você tem o número dele? — precisava dispensá-lo de algum jeito.
  —Não; ele não tem celular...
Havia me esquecido de como aquele vampiro era tão jurássico.
  — A gente vai comer o quê?—perguntou erguendo as sobrancelhas como se estivesse em um hotel ou resort.
  —Tem sangue de vaca, na geladeira.  —minto.
  —Eca!Você toma isso? —disse fazendo uma careta de repulsa.  —Prefiro sangue fresco e humano...
  —Então, se você der licença...
  —Toda — rebateu levantando as mãos. Depois começara a subir as escadas em direção da noite sem estrelas.
***
Quando cheguei ao pub, foi recebido com a seguinte frase:
—Onde você se meteu ontem à noite?
Perguntava Marieta, como um corvo velho. Usava um vestidinho preto com um casaco de mesma cor por cima.
—Casa? —digo irônico.
—Mas o seu expediente...
Antes que ela pudesse continuar a ladainha fui salvo por Amanda que me chamava.
—Obrigado...
—De nada... Agora comece a lavar os pratos.
Havia uma pilha imensa de pratos sujos em cima da pia de alumínio. Eu havia pensado que o pub não tinha sido aberto, mas pelo visto tinha me enganado.
—Vocês tiveram de continuar ontem? — pergunto virando o rosto para Amanda que frigia hambúrgueres na chapa.
—Onde você esteve? — interrogou.
Tive de pensar rápido.
—É que minha família chegou, então sabe como que é né?
—Ah, sei não... Não tenho família... —disse ela num tom soturno.
—Como foi aqui ontem?
Ela suspirou balançando a cabeça rosa e disse:
—Um inferno!Imagine dois funcionários tendo de dar conta de várias mesas e ainda por cima ter de agüentar aquela voz de taquara rachada da Marieta em seus ouvidos, dizendo o que você tem que fazer e como deve ser feito.
Por um breve momento eu me peguei imaginando a cena: Leonardo como garçom tendo de se dividir em várias mesas, com a mulher-corvo atrás dele, bicando e crocitando para ele ser mais rápido e Amanda sendo vez em quando pressionada por Marieta para fritar hambúrgueres mais depressa.
Ainda bem que havia escapado...
—E aquela mulher?
—Nossa você precisava como Marieta a tratava. Ela falava: “Se você for ficar aqui querida, peça pelo menos uma água mineral!” A pobre da moça teve de pedir a água ou ela teria sido expulsa por Marieta.
—E como ela ficou quando soube da morte...?
—Primeiro chorou e logo depois estrebuchou para dizer: “Não vou descansar enquanto não encontrar o desgraçado do assassino do meu marido!”
—Caramba...
Naquele dia teve muito movimento. Talvez fosse pelo fato de que a mulher que teve o marido assassinado esteve ali e com isso todos queriam saber de alguma coisa. Algum fato novo que o fofoqueiro da cidade esquecera-se de lhes contar.
Marieta estava adorando aquilo.
—É hoje que superfaturamos! —falava esfregando as mãos.
Muitas vezes quando fui entregar os pratos nas mesas os clientes me perguntavam: “Você soube de alguma coisa?” ou: “Foi você que o encontrou?” ou ainda: “Ele traía ela e a amante recalcada veio e o matou?”
Uma hipótese mais absurda do que a outra.
Assim que o fluxo de movimento havia diminuído eu voltei para cozinha para começar a lavar os pratos sujos. Amanda falava ao telefone quando o Leonardo entrara me dizendo:
-O seu pai tá te chamando... —disse ele entre risos.
-Oi?—perguntei pensando ter me enganado com o que eu acabara de ter ouvido.
Não, ali não...
-O seu pai tá na mesa sete. Ele quer falar com você... —repetiu ainda rindo.
-Por que você está rindo?—interroguei conforme nos dirigimos para as mesas.
-Olhe... —falou Leonardo apontando na direção da Marieta.
Olhei.
Marieta de cócoras bicava o chão com o nariz e batia os braços no ar como se fosse uma galinha. Inclusive, cacarejava feito uma.
 Eu teria rido. Teria mesmo.
 Se não soubesse quem transformara minha chefa numa galinha.
- Aqui filho! –o ouço gritar da mesa sete.
Avisto meu pai, meus irmãos e a suposta nova namorada dele.
Acena para mim com um sorriso no rosto enquanto Marieta cacarejava, em busca de milho.
 
 
CONTINUA


quinta-feira, 2 de maio de 2013

A HORA DOS LOBOS —EPÍLOGO : A LOBA E A VINGANÇA

raffael petter
 
 
—Tabatha, você está bem? — perguntou Tyler, me encarando com aqueles olhos verdes-esmeralda.
Estava deitada num divã roxo e fofo perto duma janela com cortina de renda branca. Era a mesma sala em que segundos, eu bisbilhotara a conversa entre pai e filho...
—Ouvi tudo o que vocês disseram... —digo categórica. —Sou mesmo uma loba?
— Pai você pode me dar licença? — perguntou Tyler dirigindo-se ao homem que estava logo atrás dele.
—Esperarei pelos dois lá fora. — respondeu o pai de Tyler, um senhor de seus quarenta e sete anos de idade, com olhos verdes iguais ao do filho e sorriso franco nos lábios. Olhando, podia-se perceber que daqui alguns anos Tyler se tornaria uma figura igual aquela.
—Pode começar... —disse quando o pai dele fechou a porta, deixando-nos a sós. Tyler pegou uma cadeira próxima do divã e sentou-se perto de mim. Tentei me erguer, mas meu corpo ainda estava muito cansado.
—Por onde eu começo... —disse ele num monólogo, passando as mãos pelo rosto.
—Que tal pelo início? —disse irônica.
—Tá. Quando eu tive no cemitério naquele estado eu sabia que você morreria... Você havia perdido muito sangue e não resistiria por muito tempo. Por isso, corri o quanto minhas pernas puderam para chegar aqui...
Ele fez uma pausa olhando para mim com os olhos cintilantes como se certificasse que se estava bem.
Então, aproveitei a deixa para fazer uma pergunta.
— Mas se você não tivesse dado o seu sangue para eu beber, eu teria me tornado uma vampira?
—Não... De modo algum. Para isso seria necessário que Valerie desse um pouco do sangue dela para você tomar...
Por um breve momento aquela cena da desgraçada tomando meu sangue, voltou pela minha cabeça...
—Acho que ela queria me matar mesmo... —disse soltando um suspiro profundo.
—Tabatha, não houve outro jeito... Se eu não tivesse dado o meu sangue pra você... Você estaria morta. O sangue de nós lobos tem a capacidade de regeneração um pouco mais rápida do que a dos seres humanos... Apesar de você ainda estar um pouco fraca, mas é que o sangue ainda está agindo em seu corpo, muito provavelmente, porque suas células humanas estão se combinando com as células lupinas...
—Isso quer dizer então, que aos poucos me tornarei uma loba?
—Sim— respondeu ele acenando.
— E quando me transformarei? —perguntei bocejando, o sono de algum modo começou a me invadir.
Não agora, não, por favor, sono...
—Acho melhor continuarmos esta conversa depois...
—Não... —disse soltando um bocejo de urso faminto— Pode continuar...
—Só tenho uma coisa a te dizer... —disse ele se aproximando.
—O quê? —perguntei com a voz sonolenta.
—Eu te amo... —disse beijando minha testa.
Mais uma vez, adormeci...
***
—Você tem certeza, Tom?
— Absoluta.
—Você pode mesmo localizá-los? —perguntou Juan, tomando sangue numa taça, que acabara de retirar de mais uma de suas vitimas, a amiga de Azálea, a Mirtis uma velha de sessenta e poucos anos, que sempre ia visitar o casal Leônidas, sobretudo, para discutir jardinagem com Azálea.
Porém, seu corpo pequeno vestido por um conjunto moletom de rosa Pink, jazia sobre a mesa que horas atrás sua amiga havia sido morta, de modo que o sangue que escorria por dois furos em seu pescoço corresse mais rápido.
Tinha ido ali, na casa dos Leônidas, para informar que acabara de ganhar o concurso de melhor roseira silvestre (mesmo tendo ficado em terceiro lugar). Estranhara quando fora atendida por um jovem que se apresentava por Tom...
—Sim. Posso — respondera Tom terminando a sua taça, estalando a língua de contenção.
—Não se preocupe Valerie, eles terão o que merece... —disse Juan acariciando a cabeça branca e sem vida de Valerie.
Depois ambos os vampiros explodiram em gargalhadas, que perfuraram a noite de céu estrelado.

FIM DA PRIMEIRA TEMPORADA






 

 

sábado, 27 de abril de 2013

A HORA DOS LOBOS Cap.12

a hora dos lobos

12. Uma cabeça.

A casa dos Leônidas ficava na parte mais afastada de Peba City. A casa era uma das mais velhas de toda a cidade, tinha pelo menos mais de cem anos.
 Era uma antiga construção toda feita em madeira pintada de branca com uma larga varanda em sua frente. Apesar de o tempo ter passado os velhos moradores, um casal de velhos soubera a conservá-la bem.
O jardim com esculturas de elefantes feitas em arbustos estava sempre muito bem aparado, quem os vissem de primeiro momento diria que fora podado por algum profissional, pois os animais eram muitos reais.
Porém, eles não foram criados pelas mãos de um profissional e sim pelas mãos de Azálea Leônidas, mulher de Adamastor Leônidas o banqueiro de Peba City.
Formavam um belo exemplar de casal de sexagenários que qualquer um casal desejaria se tornar quando chegasse à idade dos dois.
Azaléia cuidava da casa e do jardim com auxilio de funcionários enquanto Adamastor cuidava de sua tão preciosa biblioteca. Ele passava a maior parte do dia lendo, Azaléia não reclamava, pois teria mais tempo para cuidar de suas tão preciosas bromélias raras.
Como havia dito, eles formavam um belo casal. Ela com sessenta anos ainda mantinham um resquício de beleza. Lábios pequenos, rosto redondo e cabelos cortado no estilo channel. Ele um pouco menos, apesar de ainda manter aquela pose aristocrática e elegância que herdara com passar dos anos como o maior banqueiro da cidade. Olhos verdes espertos, boca com sorriso irônico e uma quase rala cabeleireira no topo da cabeça.
Porém, certa noite quando estavam jantando, a campainha da casa toca.
Quem seria? Perguntara-se o casal.
— Quem é? — perguntou Adamastor a Azálea.
—Não sei... Não convidei ninguém.
Interromperam a refeição esperando pela volta da empregada que traria respostas.
Depois de meia hora de espera:
— Cadê a Inês, que não volta? —perguntou Adamastor.
— Deve estar conversando na copa com o cozinheiro... — disse Azaléia se levantando.
Contudo, pouco depois de se levantar da mesa ela voltou a se sentar.
Entrava na grande e luxuosa sala de jantar dois homens uma mulher.
—Opa!Chegamos na hora certa... — disse um cara de cabelos negros e grandes com um sorriso torto de lábios sujos de algo vermelho...
— Estou morto de fome... — falou o outro um magrelo e loiro com cara pálida, como papel massageando a barriga. Ele tinha o rosto anguloso, meio andrógeno.
—Eca!Sangue de velho... —completou a mulher. Ela era espetacular!Busto cheio, cabelos cacheados e louros, aparentava ter uns trinta anos mais quando soltava aquele sorriso irônico parecia ter menos.
—O que vocês querem? —perguntou Adamastor com a voz tremula como uma folha pendente dum galho.
— Não tenho paciência com velhos, Juan! — gritou a mulher para homem de cabelos negros que parecia ser o líder do trio.
— Calma, mana, Valerie... —disse ele sorrindo— Será rápido... —disse ele com os dentes caninos retraídos, pontiagudo, prontos para o ataque.
—Posso ficar com a velha? —perguntou o loiro magricela.
—Pode sim Tom— respondeu Juan acenando com a cabeça.
Assim como Juan, Tom e Valerie retraíram os caninos, famintos.
— Estou faminta... —disse Valerie saltando em cima da mesa.
***
—O que a gente faz com os corpos? —perguntou Tom.
—Enterrem no jardim... Junto com os corpos daqueles dois criados que matamos também... —disse Valerie.
— Como assim “enterrem”? —perguntou Juan, chutando o lívido Adamastor que jazia morto a seus pés.
—Vou dar uma volta pela cidade...
—Mentira! — disse Juan pegando no braço de Valerie com brutaleza. —Você vai encontrar o desgraçado do Bastian...
—E se eu for? — refutou arrogante. —Penso que isso não seja da sua conta...
—Não basta o que ele te fez no passado?
—Quem vive do passado é museu, agora me largue.
—Valerie... —disse ele soltando o braço dela.
—Eu sei me cuidar sozinha... — disse dando as costas pros dois vampiros.
Por dentro, Juan fervilhava de raiva. Odiava de corpo e alma (se a tivesse) Bastian Blake.

***

— Você não acha que Valerie está demorando? —perguntou Juan sentado na cabeceira da mesa, a mesma que os Leônidas horas antes jantavam.
—Isso é normal... —respondeu Tom. —Quando Bastian e Valerie se encontram... Houve uma vez em Paris em que eles ficaram...
—Me poupe da novela— disse Juan fazendo com o outro se calasse.
Ficaram calados durante mais uma hora que se passara. Haviam caído num silêncio mórbido e entediante.
Juan se cansara de tanto esperar e disse ao outro vampiro:
— Você não quer trazê-la de volta?
—Posso tentar vai meio improvável ela querer voltar... Principalmente quando ela reencontra o Bastian...
— Não importa. Quero pelo menos saber onde ela está. Se ela está bem.
— Cara, logo a Valerie?
—Vá, logo! —disse Juan.
—Tá, tá...
Juan ficou observado pela janela. Vira quando Juan desaparecera nas trevas...
Há algo de errado, pensou Juan, posso sentir...

***

Não acredito nisso, pensava consigo Tom enquanto corria pelas ruas de Peba City, porque sempre eu?
Podia sentir o cheiro de Valerie flutuando no ar. Era como se tivesse um fio de cheiro flutuando no espaço. A maioria dos vampiros possuía esse cheiro especifico. Esse o era o cheiro de quando eram vivos.
No caso de Valerie, ela cheirava a rosas vermelhas.
Parou em frente duma igreja caindo aos pedaços.
O que ela veio fazer numa igreja? , Pensou ele, Espero que ela não esteja fazendo nada profano...
Ele entrou na igreja e sentiu o cheiro de outros três vampiros e duas humanas.
Foi até o corredor.
Não encontra ninguém.
Volta.
O nariz dele estava aguçado, farejando o ar com um cão perdigueiro.
Onde você está Valerie? , Perguntou Tom para si.
Voltou para o átrio da igreja. Olhou para o céu escuro que começava a esmaecer, recebendo gradualmente tons alaranjados.
O sol nasceria em breve.
Farejou o ar.
E correu na direção do cemitério...

***
Aquelas lápides todas, não lhe causavam estranheza como antes, quando humano.
A morte era algo, banal.
Tão banal que adorava ver a vítima morrer, esvaindo em sangue.
Sangue... Fonte de vida e prazer...
O cheiro estava se tornando mais forte...
O cheiro de rosas que sua irmã exalava era inconfundível...
Atravessou o portão que dava em direção a floresta e lá estava ela, Valerie morta no chão. O corpo desfigurado dum lado e a bela cabeça do outro...
O corpo de Tom fora possuído por um tremor... As mãos tremelicavam como vara verde...
—Não!
Nervoso, abriu uma cova no solo e enterrou o cadáver da irmã.
Havia outros cheiros ao redor, naquela parte onde a cabeça da irmã estava jogada...
O cheiro de uma humana e de um lobo...
Pegou da cabeça da irmã pelos cabelos e disse olhando em seus olhos de peixe morto:
—Não vai ficar assim... Vingarei sua morte...

***
O dia começava a raiar quando Tom chegou à casa dos Leônidas.
Trazia consigo aninhando nos braços a cabeça da irmã.
Não sabia bem o motivo de tê-la trazido consigo. Talvez, fosse pelo motivo de ela ser tão bonita...
Um rosto tão belo, Concluiu consigo com os olhos marejados, Não merece ser comido pelos vermes...
—Então? —perguntou Juan virando-se de frente para Tom assim que esse entrou na sala de jantar.
Tom não precisou responder, pois os olhos de Juan desceram imediatamente para o volume em que os braços de Tom abraçavam.
— O que? — questionou.
Porém não havia mais tempo para respostas ou perguntas, pois lá fora o sol raiava.
Ambos  correram , buscando refugiar-se no sombrio porão da casa dos falecidos Leônidas.
Adormecendo no colo da morte...

 

CONTINUA

 

sexta-feira, 26 de abril de 2013

A HORA DOS LOBOS Cap.11


 

imagens de lobos correndo


11. Ainda viva
Pude sentir o sangue escorrer pelo meu pescoço e empoçar por debaixo de minhas costas; o sangue estava quente...
Pude sentir minha respiração indo aos poucos fraquejando, respirava com muita dificuldade...
Pude sentir minha visão esmaecendo, deixando tudo em volta, mergulhado num breu completo...
Por fim, pude ouvir as asas da morte baterem,aproximando a cada segundo,de mim...
Parecia que estava dormindo num sono há muito desejado, um sono represado, que agora como um dique, de repente, se rompera inundando tudo...
Estava imersa num sono profundo...
O único dos sentidos que ainda funciona em meu corpo mesmo com certa dificuldade, era a audição...
Conseguia ouvir em minha volta os sons do ambiente... Os lábios de Valerie em meu pescoço como uma sanguessuga faminta...
O trilar dos grilos...
E um rosnado...
Se aquilo fosse algum pesadelo queria despertar imediatamente dele. Não, já estava na hora de acordar!
Bastava!
Aquilo tudo bastava!
Vamos acorde!,
Dizia eu consigo mesma, Vamos desperte deste pesadelo!Vamos Tabatha...
Porém, nada acontecera...
Nada...
Ainda estava nas trevas; apenas ouvindo os ruídos lá de fora.
Inclusive, pude ouvir o que Valerie disse ao desgrudar repentinamente de meu pescoço:
—O que você está fazendo aqui lobo desgraçado? — perguntou ela com raiva para os rosnados incessantes que agora eu sabia se tratar de um lobo... —Acho que eu sei de quem se trata... — falou farejando o ar. Minha audição apesar de fraca, de alguma forma, manteve-se aguçada o suficiente.
Em reposta, Valerie recebera rosnados ainda mais altos.
—Então é você Tyler Black?
Era aquilo mesmo que eu acabei de ouvir?Tyler... Então ele recebera as minhas mensagens... De repente, sou tomada por uma onda de ânimo; mas do mesmo lugar que essa onda surgiu, ela voltou...
— Veio se juntar a essa humana? — perguntou zombeteira.
Depois uma explosão de gargalhadas.
Farfalhar de folhas, asas batendo e o rosnado do Tyler, do lobo...
— Você vai morrer desgraçado... —berrava a vampira do alto. —Depois, terminarei de matar a humana...
A voz dela estava fina e cortante.
O que aconteceu a seguir eu não consegui compreender muito bem... Foi uma verdadeira mistura de gritos e rosnados... Com certeza, Tyler e Valerie brigavam...
Se tivesse forças suficientes para me levantar do chão eu teria partido para aquela briga, ajudaria Tyler...
Alguns minutos se passaram até que não consegui ouvir mais nada.
Apenas o silêncio reinava...
Adormeço.
***
Não sei se fiquei desacordada por muito tempo, só sei que acordei ao som de pés se aproximando...
Seria Tyler ou Valerie...?
Só de pensar meu coração se partira ao meio...
A pessoa parou perto de mim... Agachou-se, aproximou a respiração ofegante e perguntou:
—Você está bem?
Aquela voz era de Tyler. Eu queria me levantar e abraçá-lo e dizer que estava...
Mas como havia dito antes, estava sem forças.
—Oh, céus... — exclamou ele. —Não se preocupe te levarei para casa. Meu pai saberá o que fazer... —disse ele me erguendo do solo, me carregando em seu colo.
Abri os olhos e o vi tão belo quanto antes... Havia manchas de sangue por sua boca e por uma parte de seu pálido e forte peitoral...
Os olhos aqueles olhos verdes como esmeraldas tinha uma tonalidade completamente diferente agora...
Sorrio.
E volto a dormir.
***
Assim que despertei, percebi pela cama que deitava e o quarto que estava que aquela não se tratava de minha casa. A cama de madeira toda em talhada e os moveis todos de bom gosto e refinamento, afirmavam isso. Principalmente, o quadro que ficava à minha direita acima dum aparador que trazia na pintura três homens. Tyler lindo como sempre à direita e Bastian com um sorriso cínico à esquerda, no meio ficava um homem de cabelos grisalhos e queixo grande, quadrado.
Aquela casa era a casa de Tyler.
De repente, tudo que acontecera na noite anterior me veio à cabeça numa sucessão de flashes. Era como se eu assistisse num telão a uma macabra exposição fotográfica...
Lembrei de Valerie, de Tyler, da carta, de tudo...
A janela a minha frente pude ver que era dia. O sol brilhando num céu azul sem nuvens ao som de pássaros que comemoravam o dia ensolarado.
De repente, lembrei-me da minha mãe...
Será que ela...
—Não se preocupe... — disse Tyler. —Ela está em casa...
Com sede, meus ouvidos seguiram na direção daquela voz. O dono dela se encontrava sentado numa poltrona xadrez em vermelho e verde ao meu lado esquerdo...
Como não o havia percebido antes?
—Como você está?
—Bem... — disse lembrando a marca que deve ter ficado dos dentes de Valerie. Viraria vampiro? —Acho...
Minha voz soou fraca...
Droga!
— Por que você não me contou? — perguntou ele irritado.
— O quê? — disse como se não soubesse do que se tratava.
—Deixa de graça... —nunca o vira falar tão sério. — Porque você não contou que Tyler tava te ameaçando?
—Eu não podia... —disse a verdade.
—Como assim não podia? — questionou nervoso...
—Se eu tivesse contado a alguém que eu ia me encontrar com ele, Bastian mataria mãe... Por isso não te contei...
Ele ficou quieto.
Olhava para mim...
Queria perguntar pra ele se ele tinha raiva, mas meu orgulho não deixou... Ora, essa eu não tinha culpa se o irmão louco dele fizera minha mãe de refém...
—Descanse... Depois conversaremos... —disse ele levantando-se da poltrona e dirigindo-se para porta do quarto sem olhar para mim.
Fechou a porta e logo após adormeci...
O cansaço voltara...
***
Era noite.
As estrelas brilhavam no céu. E eu ainda estava naquele quarto...
Tentei me levantar, mas não consegui. Estava ainda muito fraca. Eu deveria ter perdido muito sangue...
Tento me levantar de novo da cama. Fiquei por alguns momentos sentada na cama.
Estava ainda zonza...
Bastava olhar para penumbra daquele quarto para que eu começasse a ficar tonta...
Esperei alguns minutos até que meu corpo convalescente se acostumasse para poder dar os primeiros passos como uma criança que aprende a caminhar. Só que eu não tinha o auxilio de meus pais pra me ampararem caso eu caísse.
A sensação de uma pessoa mordida por vampiro é a de estar seca... A cada mover de músculo travava uma grande batalha com meu corpo que parecia atrofiado...
Apoiei-me na parede de madeira e no pequeno criado mudo até que eu conseguisse chegar a porta.Quando cheguei a maçaneta minhas costas estavam banhadas de suor.
Torço a maçaneta e dou de cara com um corredor escuro e vazio.
Olhei para os dois lados antes de seguir a direita e fechar a porta atrás de mim.
***
Quando cheguei ao corrimão da longa escada de madeira eu arfava. Sabia que ainda estava fraca por que a pouca distancia que percorrera até ali era mínima além de que eu fizera o percurso todo me apoiando na parede.
Comecei a descer os degraus que rangiam a cada degrau que eu descia. Parecia uma daquelas escadas de filme de terror em que o assassino está à espera da personagem logo embaixo, com uma machadinha na mão pronto matar...
No meu caso não houve assassino algum, porém ao olhar pro espelho que ficava acima dum aparador no lado esquerdo, ao final da escada, eu me assustei.
Aquela figura que tinha como reflexo não podia ser eu... Estava irreconhecível!
Rosto magro, com olheiras quase roxas como se eu não tivesse dormido há séculos e lábios rachados... Além de que usava uma camisola pérola de cetim ridículo que nem minha avó usaria.
Literalmente eu estava acabada...
Sai de frente do espelho e passei por um cômodo que deveria ser uma sala de estar. Estava em penumbra e erma.
Saio desta sala e rumo para um corredor iluminado por luzes bem fracas, que fizeram com que eu apertasse os olhos para enxergar o caminho a minha frente.
Sou atraída por uma porta entreaberta. Um facho tênue de luz saia de dentro dela...
Aproximei-me sorrateiramente dela e pude ouvir a seguinte conversa:
— Você tem certeza que ela não vai se transformar num vampiro, papai? — perguntou Tyler preocupado.
Eu não o pude vê-lo muito bem, pois a poltrona em que estava sentado ficava de costas para mim. A pessoa com ele conversava (o pai dele) também não dava para vê-lo, a poltrona verde de veludo estava disposta de frente a do Tyler, impossibilitando desse modo minha visão.
Mas o papo continuou:
—Não se preocupe... Você fez tudo como eu te falei? —perguntou a voz da poltrona de veludo.
— Sim, fiz... Dei meu sangue para ela beber... — disse com a voz um pouco distante.
—Tyler, você tão bem quanto eu que se você não tivesse agido dessa maneira, sua namorada a essa altura estaria morta ou teria se tornado uma vampira...
—Sei bem disso... O problema é que... É que eu não queria que ela se transformasse...
—Foi o único jeito de salvar a vida de ela, isto é, mesmo tendo transformando-a em lobo... — depois de dizer tais palavras a sala que deveria ser uma biblioteca ou escritório, ficou em silêncio.
Aquelas palavras soaram como socos em meu ouvido.
Eu me tornara um lobo?
Aliás, eu era um lobo?
De repente, como num flashback dum filme comecei a me lembrar de uma determinada cena:
"—Vamos, beba Tabatha... — disse ele me colocando sob a cama de casal e me dando o sangue escorria de seu pulso. - Isso beba...
Eu tomava de bom grado, porém, tomava meio que inconsciente estava muito fraca provavelmente..."
Precisa saber a verdade...
Saindo do flashback e voltando ao peso da realidade, empurro a porta da biblioteca, surpreendendo Tyler e seu pai.
Contudo, não pude ver ou ouvir mais nada.
Pois caia desmaiada no chão.


CONTINUA