quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A HORA DOS LOBOS Cap.3


A HORA DOS LOBOS
                                                     

                 3. Dúvidas e mais dúvidas.
Quando despertei e vi que ainda era noite e que não estava morta, quase gritei exultante. Poucas pessoas escapavam vivas de serem mordidas por um vampiro. Na verdade, devo agradecer de joelhos a Tyler, porque sem ele, não estaria aqui para contar a história.
Até este momento ainda não consigo acreditar. Não mesmo. É como se eu tivesse emergido em algum livro de terror. Como O Conde Drácula, por exemplo. Momentos antes de conhecer, Bastian eu riria da cara de qualquer um que dissesse que havia sofrido um ataque de vampiro. Apesar de ser amante de literatura sobrenatural, nunca, pensei que em algum dia de minha vida, pudesse encontrar algum  na minha frente.
--Tabatha?—pergunta Alieta olhando para trás. Estávamos no carro de Roberto.
--Oi?
-- Encheu a cara em Darling... —diz ela soltando um risinho no final.
Oi?
Como assim, eu enchi a cara?Isso era impossível. Havia bebido um copo de caipirinha (que a meu ver estava muito forte) que mesmo assim, precisaria tomar uns cinco daquele para poder cair morta de bêbada.
--Mentira!... —digo curiosa em saber o que acontecera.
--Bom, Tyler disse que havia encontrado você jogada no chão... Disse que você devia ter bebido demais e que não acordaria tão cedo... Mas o mais legal de tudo foi ver a cara de tacho, da Marine Suprime, quando Tyler apareceu carregando você no colo... Darling, você precisava ver a carranca dela, parecia que tinha chupado limão... —diz Alieta, começando a rir descontroladamente.
Ria tanto que faltava até ar em seus pulmões.
Apenas esbocei um pequeno e tímido sorriso, pois por dentro, lá em meu âmago, estava contente, soltando mil fogos de artifícios.
Tyler havia me carregado em seus braços?
Uhu!
Tudo bem até aí. Seria a realização de qualquer garota ser carregada nos braços de um príncipe, assim como as princesas da Disney. Porém, havia algo a ser explicado.
Por que ele mentira?Falara que eu estava bêbada?Por que ele não tentara dizer a verdade (apesar de que muitos iriam achá-lo maluco)?
--Chegamos... —disse Ariel num tom de voz hesitante. Olho em direção da janela embaciada do carro.
Um carro de polícia estava estacionado em frente da minha casa.
                           ***
Imediatamente, meu coração começou a saltar no meu peito. Parecia querer pular pela minha garganta a fora. Alieta me olha, mas não respondo nada. Saio do carro e vou marchando em direção de minha casa.
Cada passo que dava, mais a dúvida crescia: o que estava acontecendo? Será que Bastian, para se vingar de mim resolvera matar a minha mãe?
Aquele sentimento era muito horroroso. Sentia-me afogada no temor.
Atravesso a viatura da policia. Galgo os degraus e torço a maçaneta da porta.
E sou surpreendida por um grito mergulhado em lágrimas e um abraço desesperado.
                              ***    
--Onde você estava?—pergunta minha mãe, seguida pelos os olhares perscrutadores dos dois policiais. Um era baixo e corpulento o outro era alto e magro com um bigode tipo escovinha.
--Oi?—digo como se não houvesse entendido a pergunta.
--Onde você estava Tabatha?—pergunta minha mãe novamente. Dona Rosana era o tipo de pessoa que não gostava de ser feita de otária.
--Numa festa...
--Que festa?—pergunta ela cada vez mais irritada, pelas minhas meias respostas. Passado o instante do desespero chega o momento do sermão.
--Uma festa de Halloween fora de época...
--Você, não podia ter me dado um telefonema ou pelo menos atendido um dos meus?—diz ela.
Pego do meu celular. Ops. Havia mais de vinte chamadas perdidas, mais quinze mensagens.
Cara, eu estava ferrada.
--Mas, mãe eu havia deixado um bilhete grudado na geladeira...
--Tabatha, acho que você já está madura o suficiente, para ficar inventando este tipo de historietas...
--Mas mãe...
--Não quero saber de desculpas. Suba, agora pro seu quarto— diz ela com total frieza.
Quando Rosana estava exasperada, quase impossível de contrapô-la. Era o que dava ser filha de uma advogada.
                            ***
Pude ouvir minha mãe agradecendo aos policiais e em seguida o carro de polícia partindo.
Não, aquilo era muito ridículo! Eu havia deixado o bilhete afixado na geladeira. Só se o vento que corria da janela da cozinha, que muito provavelmente, eu deixara aberta fez com que o bilhete descolasse da geladeira caindo em algum lugar.
Merda!
Por culpa de um bilhete, ficaria de castigo, pelo menos por um mês.
Não, isso não podia acontecer. Eram muitas emoções em um único dia.
Toc-toc.
Dona Rosana batia a porta.
--Tabatha.
--Mas mãe—começo eu. Eu não podia ficar de castigo. Tinha de argumentar. Tinha de lutar bravamente contra as injustiças. Não podia me entregar tão facilmente. —Foi o seguinte: eu havia escrito um bilhete e o havia afixado na porta da geladeira e como a janela da cozinha estava aberta é muito provável, que uma rajada de vento o derrubasse...
--Tabatha, você sabe que não é isso do que se trata...
Oiee?
Do que se trata, então?
A culpa não foi minha. Eu havia escrito o bilhete. Havia deixado um recado avisando aonde eu iria.
 Respiro fundo, o sermão ainda não tinha acabado.
--O que está em jogo aqui é o fato de você não ter atendido as minhas ligações ou ao menos ter respondido uma mísera mensagem...
Não conseguia falar.
Acho que também não tinha muito que falar né? Fiquei apenas ouvindo-a. Era como se eu fosse um psicanalista e minha mãe a paciente deitada no divã.
--Tabatha, eu fiquei totalmente desnorteada... Fiquei imaginado o pior...—diz ela sentando-se ao meu lado da cama.
Em certa parte ela estava certa. O pior podia ter acontecido. Eu poderia estar morta sem nenhuma gota de sangue no meu corpo.
Dona Rosana me olha como um juiz, esperando que seu réu admitisse a culpa.
Sim. Admito. Errei.
--Mãe, desculpa... A minha intenção não foi te deixar descabelada e enlouquecida... —respondo abraçando-a.
Pude sentir que algo molhava meus cabelos. Eram lágrimas de minha mãe. Permanecemos naquele abraço durante alguns minutos.
Depois, ela me deixa. E o melhor de tudo era que eu não estaria de castigo. Pelo menos não durante um me todo e sim uma semana sem tevê a cabo. Apesar de que isso não fazia muita diferença, já que nos havíamos acabado de nós mudarmos.
Pego meu celular e envio uma mensagem para Alieta. Qual ela não me responde, porque devia estar dormindo. Já passava das duas e meia.
Todavia, não conseguia dormir pensando nos fatos que sucedera na casa de Marine Suprime. Precisava fazer algo em relação aquilo. Precisava saber a verdade.
Precisava perguntar a Tyler o que acontecera.
E mais do que tudo precisava saber mais sobre vampiros. Teria de passar naquela loja de esoterismo da vidente maluca. Lá deveria ter algum livro que falasse a respeito. Podia muito bem ir ao Google e perguntar, mas encontraria muito lixo. Não estava a fim de ficar garimpando site por site.
Como a insônia tomava de conta de minha cabeça. Decido pegar algum romance pra ler. Vou à estante branca que ficava a frente de minha cama, passando minha entre as lombadas dos livros.
Seres de capa que tinham um mundo vasto e fantástico a revelar. Decido-me por Flaubert, Madame Bovary.
Um dos romances realistas mais ácidos que a história vira.
Amava a ironia do autor.
Começo a lê-lo até que meus olhos começaram a pender e em seguida fecharem-se de vez.
Enfim, caio no sono.
                         ***
 Como combinado, minha mãe havia me deixado um quarteirão antes da escola.
Mas não sem antes de eu ter lhe pedido dinheiro extra pro lanche, que seria revertido na compra do livro sobre vampiros.
Passo pela loja de esoterismo, que tinha afixado na sua vitrina uma placa que dizia: fechado.
Não importava. Passaria depois da escola.
                           ***
O tempo passara muito rápido.
Quando percebi, o alarme de saída já havia batido.
Alieta como já era de se esperar me interrogara a aula inteira sobre minha mãe. Ela me pareceu uma daqueles detetives de romances policiais da Agatha Christie. Ela não sossegara, enquanto eu não disse tudo o que me aconteceu, não deixando escapar nenhum detalhe se quer.
Na hora do intervalo não encontrei Tyler. Justamente num momento em que eu queria perguntar sobre Bastian. Saber quem era ele. O que ele fazia. Onde morava.
Despeço-me de Alieta e sigo para loja esotérica.
Lá, talvez, pudesse conter as respostas para minhas dúvidas.
                             ***

 Dessa vez a loja se encontrava com a porta aberta.
Sem hesitar entro na loja.
 O lugar como já era de se esperar era obscuro. A única iluminação que tinha, provinha da porta aberta.
Ando na direção duma estante abarrotada de livros que ia do chão ao teto. Procuro entre aqueles livros dispostos na prateleira em ordem alfabética algum que começasse com a letra V.
Meus olhos passaram por títulos: magia negra, magia branca, defesa contra seres das trevas, livro de feitiços contra espíritos, evocando espíritos e etec.
Até que encontro o que procurava. Não era bem na letra V, mas mesmo assim não deixava de ser o que eu procurava. Puxo o livro médio de capa dura e vermelha cujo título em letras douradas dizia:
Dos vampiros, dos lobisomens e doutras criaturas das trevas.”  
E ainda num subtítulo de mesma cor:
“Um estudo sobre seus hábitos e pontos fracos.”
Abro o livro de páginas amareladas com total sofreguidão. Queria obter, o quanto antes respostas.
Contudo, sou impedida pelo pigarro ruidoso da dona da loja.
--Este livro lhe interessa?—pergunta ela.
Óbvio que me interessava!
--Sim... Quanto custa?—pergunto.
Ela vai até o balcão que ficava do lado esquerdo da loja, abre uma gaveta e retira de dentro dela um livro grande de capa preta que parecia ser pesado.
--Sí, sí... —dizia ela num sotaque castelhano passando o indicador de unhas vermelhas pelas linhas dos livros. Entrego o livro pra ela para facilitar a pesquisa no que deveria ser um catálogo. —Custa vinte e cinco reais.
Ainda bem que tinha trinta reais no bolso. Entrego o dinheiro e depois recebo o troco.
A cigana como antes, no dia da adivinhação, ficou me olhando.
Tive vontade de perguntar se ela havia perdido algo, mas a minha infelizmente curiosidade não deixara que o fizesse.

                           ***
Como esperava, meu doce lar estava vazio. Ainda estava meio bagunçado, admito, contudo não era nada para se desesperar.
Pego meu almoço na geladeira e ponho no micro-ondas. Ponho o livro em cima da mesa redonda ao lado da parede e subo ao meu quarto para trocar a roupa. Depois, desço tiro meu prato do micro e o ponho na mesa. Volto à geladeira para pegar o suco de laranja, pondo um pouco num copo de vidro.
Por fim, abro o livro.
Vou logo ao que me interessava: Vampiros...
 
      VAMPIROS: CRIATURAS DO INFERNO

Vampiros são seres humanos mortos, que vivem de sangue de outros seres vivos. Não somente humanos como também de animais. Porém estes adquirem maior potencial de sua força ao beberem sangue humano.
Poucos sabem de onde essa praga surgira. Muitos estudiosos afirmam que os vampiros descendem diretamente de Lúcifer. Que os criaram para aterrorizar os humanos.
Outros afirmam que tais criaturas surgiram através de um pacto. Qual certo rei tirano havia realizado com Lúcifer, em troca da imortalidade e, por conseguinte ficaria muito mais tempo a  governar. Só que em troca Lúcifer, queria que ele vivesse de sangue, sobretudo, de seu semelhante.
Bom, não se sabe ao certo de onde vieram estas criaturas. Sabe-se apenas que elas são muito perigosas. São seres ultra habilidosos e sedutores.
Atraem suas vítimas por meio de um transe induzido. Deixando-as presas como uma mosca numa teia.
 Para um vampiro tanto faz transformar ou matar suas vítimas. Eles não fazem distinção quanto a isso.
Os únicos meios de se matar um vampiro é degolar-lhe a cabeça, estaca no peito e água santa. Sendo que esta última não mais surte efeito contra alguns espécimes, assim como, os crucifixos não mais assustam.
Isso vem acontecendo porque os vampiros vêm se adaptando. É o caso de alguns destes seres, que consumem verbena para neutralizar os poderes dos raios solares, permitindo-lhes desta forma andar na luz do dia.
Lia tudo àquilo completamente pasma.Não conseguia acreditar no que meu cérebro absorvia.Porém, houve uma parte peculiar no texto que despertou a atenção: 
Muitos estudos apontam que os vampiros são sócias-patas sobrenaturais.
Uma vez, que escolhem sua presa, tornar-se quase que impossível de detê-los. Não importa o que seja feito, eles perseguirão seu alvo até consegui-los atingi-los.
Assim que terminei de ler esse trecho um frio percorreu minha espinha.
Ops.
Se Bastian fosse mesmo um vampiro—eu não tinha mais dúvidas quanto isso— estaria correndo um perigo muito sério.
Não sou como minha mãe e Alieta. Como qualquer um que estivesse a minha volta que eu gostasse e amasse, pois ele poderia usá-los muito bem para me atingir.
De repente, uma mórbida ideia relampejou no meu cérebro.
E se Bastian matou Tyler?Isso explicaria o fato de ele não ter ido hoje para escola.
Subitamente a comida perdera o gosto para mim. Não podia comer, enquanto o corpo de Tyler podia estar seco em algum lugar em Peba City.
Fecho o livro.
 Pego meu celular e disco o número de Alieta. Não podia ficar de braços cruzados feito uma múmia egípcia, sem fazer nada.
--Alieta?Como vai...?Ah... Sim, sim... —ela não parava de falar do Roberto, que lhe dera um pé na bunda e que pegou ele se agarrando com outra. —Alieta você sabe onde fica a casa do Tyler?—pergunto em tom de voz  despreocupado.
Silêncio do outro lado da linha.
--Alieta, você está aí?—pergunto. Ela me responde que sim. Que sabia onde era a casa de Tyler e que fora uma vez lá, através de um contato dela.
Perguntei se ela estava disposta a me levar até lá. Ela me perguntou o porquê, mas eu não respondi. Apesar de ela insistir eu não disse o motivo.
No final Alieta disse que passaria na minha casa dentre meia hora.
Subo pro quarto e troco de roupa. Coloco uma blusa de moletom preta com estampas de caveiras roxas e brancas e uma calça jeans de lavagem azul escura. Passo um lápis no olho e um gloss.
O momento não era propício para extravagâncias.
                             ***
Após passarem-se alguns minutos do horário combinado, ouço o som da buzina de Alieta. Desço as escadas correndo em direção a porta. Abro-a e respiro aquele ar puro que prenunciava tempestade.
 Precisava ter a certeza de que Tyler não estava em casa.
Tinha de ter a certeza de que ele estava vivo ou morto.
 
                      CONTINUA

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