segunda-feira, 10 de junho de 2013

CRÔNICAS DE UM VAMPIRO - 3

cronicas de um vampiro
3. A Fugitiva
- O que você está fazendo aqui?—perguntei irritado, apesar de saber o que ele estava fazendo ali.
-Não está contente em me ver filho?—perguntou com um sorriso largo no rosto.
-Não – respondo.
Meu pai era o tipo de cara que apesar do tempo passar, gostava de aparecer com um garoto. Tinha cabelos pretos brilhosos, que já deviam estar esbranquiçados se não fosse pela sua condição de vampiro, queixo proeminente com um furinho neste, olhos azuis que, às vezes, quando estava com raiva se tornavam cinzas.
Em suma, era um quarentão que queria parecer jovem.
-Oi, Gael. —disse a nova mulher de meu pai que estava sentada ao lado dele que só fui percebê-la porque, me cumprimentara. —Meu nome é...
-Já sei qual o seu nome. Zaya, não é mesmo?
Ela anuiu à cabeça e Marieta cacarejou perto da mesa, ainda ciscando o chão escuro em busca de um milho imaginário.
Olhei pra ela e tive o breve, repito breve ímpeto de dizer ao meu para que quebrasse aquele transe, mas pensando melhor decidi deixá-la como uma galinha durante algum tempo mais.
-Então o que você quer?—pergunto categórico.
-Passar um mês hospedado em sua casa. —respondeu após suspirar.
-Por quê?
-É uma longa história...
-Amo longas histórias... —respondo impaciente.
- Mas agora não dá pra dizer... —disse indicando para Leonardo que estava atrás de mim.
Virei-me e constatei que meu querido colega de trabalho não estava nem um pouco a fim de escutar a nossa conversa.
Chorava de tanto rir. Quem o visse diria se tratar duma criança.
-Então, tá. Esperem até a gente fechar...
-Não. Acho que tenho uma ideia melhor. —falou levantando-se da mesa indo agachar-se perto de Marieta.
Olhou em seus olhos. Ela imediatamente parou de cacarejar, encarando-o.
Sabia muito bem o que ele ia fazer.
Eu e Zaya assistíamos ao show sem dizer uma palavra.
Quando Marieta estava presa no olhar de meu pai este disse:
-Você fechará, está lanchonete agora. Dispensará todos os seus funcionários.Você me entendeu?
-Sim. —respondera ela confirmando a resposta com um aceno afirmativo de cabeça.
Ela levantou-se abandonando toda aquela loucura de galinha e dirigiu-se a mim falando com uma voz pastosa como se um alien houvesse se apossado de seu cérebro.
-Você está dispensado.
Depois passou por mim e disse o mesmo a Leonardo. Eu sabia muito bem que aquilo se tratava de um transe uma espécie de hipnose que nós vampiros temos os poderes de impor. Mesmo contra a vontade do individuo. Vide o exemplo de Marieta.
- O que deu nela cara?—perguntou Leonardo não entendendo bulhufas o que acabara de acontecer.
-Eu que não vou ficar aqui para ver. —respondo. —Vocês podem me esperar lá fora?— peço a meu pai e a minha “madrasta.”
Eles atendem ao meu pedido.
Passo pela cozinha e vou direto ao pequeno cômodo que servia de escritório e deposito dos pertences dos funcionários.
Encontro com Amanda e Leonardo preparando-se para sair.
-O que deu nã chefe barra vaca, barra brava?
-Não sei não. —respondo. —Talvez um milagre?
Amanda olhou com o seu rosto redondo para mim, cética.
Depois abriu um sorriso.
-Não, não creio... Talvez o remedinho que ela toma venceu ou ela andou tomando uns goros escondida...
Nós três começamos a rir ao mesmo tempo.
***
Já fora do pub, procurei por eles, mas não os encontrei. Porque, provavelmente, deveriam estar esperando na minha casa.
Dou alguns passos na rua escura e quase vazia, para depois dar origem a uma feroz e desabalada corrida em direção as trevas.
***
Fui encontrá-los (mais Ferdinando) a porta de casa.
-E aí, mano não falei?
-Sim; falou—respondi empurrando a porta assim que a abri.
Fomos todos para o sótão.
-Pode começar—disse me sentando no sofá.
-Bem... —começou ele, tirando Ferdinando da poltrona para que pudesse se sentar. —Sei que não temos as melhores das relações como pai e filho...
-Tá eu também sei. Mas você não veio aqui só para falar isso. Vamos, conte logo a verdade!
-É que eu estou fugindo...
-Do que ou de quem?
-Da Paratsu.
-Do que?
-Da Paratsu. O clã de bruxas celtas.
-Mas por quê?—pergunto me acomodando melhor no sofá.
-Eu sou o motivo — começou Zaya antes que meu pai tivesse chances de explicar. —Foi por minha causa... Eu me apaixonei pelo seu pai e ele por mim...
-E qual o problema?Não vejo mal algum nisso.
-Sim— continuou ela. —Não há mal algum para nós, mas para Paratsu tem. É que quando uma bruxa entra para Paratsu, ela é obrigada a fazer o voto de nunca se interessar por um homem fora da seita. E quando conheci o seu pai e me apaixonei por ele, acabei quebrando o voto... —parou para olhar meu pai que também não desgrudava os olhos dela.
-E...?—interroguei.
-E que se uma bruxa quebra tal voto ela é imediatamente considerada como traidora e com isso esta deve ser morta o quanto antes. Não só ela, mas como todos com que ela se relacionar. Pois os segredos da seita não podem transpirar.
-Então, vocês vieram para cá em busca de guarida?
-Isso —disse Zaya.
-Só por uns tempos... — completou meu pai.
Não tive escolha.
-Tá, desde que eu não corra perigo...
-Não se preocupe juro que nada vai te acontecer. Palavra de pai— falou meu pai erguendo a mão direita como se estivesse fazendo um juramento.
Acenei a cabeça concordando falsamente, pois sabia que de uma maneira ou de outra, meu pai acabaria me pondo em encrencas.
 CONTINUA

 

 

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