3. A Fugitiva
- O que você está fazendo
aqui?—perguntei irritado, apesar de saber o que ele estava fazendo ali.
-Não está contente em me
ver filho?—perguntou com um sorriso largo no rosto.
-Não – respondo.
Meu pai era o tipo de
cara que apesar do tempo passar, gostava de aparecer com um garoto. Tinha
cabelos pretos brilhosos, que já deviam estar esbranquiçados se não fosse pela
sua condição de vampiro, queixo proeminente com um furinho neste, olhos azuis
que, às vezes, quando estava com raiva se tornavam cinzas.
Em suma, era um quarentão
que queria parecer jovem.
-Oi, Gael. —disse a nova
mulher de meu pai que estava sentada ao lado dele que só fui percebê-la porque,
me cumprimentara. —Meu nome é...
-Já sei qual o seu nome. Zaya,
não é mesmo?
Ela anuiu à cabeça e
Marieta cacarejou perto da mesa, ainda ciscando o chão escuro em busca de um
milho imaginário.
Olhei pra ela e tive o
breve, repito breve ímpeto de dizer ao meu para que quebrasse aquele transe,
mas pensando melhor decidi deixá-la como uma galinha durante algum tempo mais.
-Então o que você
quer?—pergunto categórico.
-Passar um mês hospedado
em sua casa. —respondeu após suspirar.
-Por quê?
-É uma longa história...
-Amo longas histórias...
—respondo impaciente.
- Mas agora não dá pra
dizer... —disse indicando para Leonardo que estava atrás de mim.
Virei-me e constatei que
meu querido colega de trabalho não estava nem um pouco a fim de escutar a nossa
conversa.
Chorava de tanto rir.
Quem o visse diria se tratar duma criança.
-Então, tá. Esperem até a
gente fechar...
-Não. Acho que tenho uma
ideia melhor. —falou levantando-se da mesa indo agachar-se perto de Marieta.
Olhou em seus olhos. Ela
imediatamente parou de cacarejar, encarando-o.
Sabia muito bem o que ele
ia fazer.
Eu e Zaya assistíamos ao
show sem dizer uma palavra.
Quando Marieta estava
presa no olhar de meu pai este disse:
-Você fechará, está
lanchonete agora. Dispensará todos os seus funcionários.Você me entendeu?
-Sim. —respondera ela confirmando
a resposta com um aceno afirmativo de cabeça.
Ela levantou-se
abandonando toda aquela loucura de galinha e dirigiu-se a mim falando com uma
voz pastosa como se um alien houvesse se apossado de seu cérebro.
-Você está dispensado.
Depois passou por mim e
disse o mesmo a Leonardo. Eu sabia muito bem que aquilo se tratava de um transe
uma espécie de hipnose que nós vampiros temos os poderes de impor. Mesmo contra
a vontade do individuo. Vide o exemplo de Marieta.
- O que deu nela
cara?—perguntou Leonardo não entendendo bulhufas o que acabara de acontecer.
-Eu que não vou ficar
aqui para ver. —respondo. —Vocês podem me esperar lá fora?— peço a meu pai e a
minha “madrasta.”
Eles atendem ao meu
pedido.
Passo pela cozinha e vou
direto ao pequeno cômodo que servia de escritório e deposito dos pertences dos
funcionários.
Encontro com Amanda e
Leonardo preparando-se para sair.
-O que deu nã chefe barra
vaca, barra brava?
-Não sei não. —respondo.
—Talvez um milagre?
Amanda olhou com o seu
rosto redondo para mim, cética.
Depois abriu um sorriso.
-Não, não creio... Talvez
o remedinho que ela toma venceu ou ela andou tomando uns goros escondida...
Nós três começamos a rir
ao mesmo tempo.
***
Já fora do pub, procurei
por eles, mas não os encontrei. Porque, provavelmente, deveriam estar esperando
na minha casa.
Dou alguns passos na rua
escura e quase vazia, para depois dar origem a uma feroz e desabalada corrida
em direção as trevas.
***
Fui encontrá-los (mais
Ferdinando) a porta de casa.
-E aí, mano não falei?
-Sim; falou—respondi
empurrando a porta assim que a abri.
Fomos todos para o sótão.
-Pode começar—disse me
sentando no sofá.
-Bem... —começou ele,
tirando Ferdinando da poltrona para que pudesse se sentar. —Sei que não temos
as melhores das relações como pai e filho...
-Tá eu também sei. Mas
você não veio aqui só para falar isso. Vamos, conte logo a verdade!
-É que eu estou
fugindo...
-Do que ou de quem?
-Da Paratsu.
-Do que?
-Da Paratsu. O clã de
bruxas celtas.
-Mas por quê?—pergunto me
acomodando melhor no sofá.
-Eu sou o motivo —
começou Zaya antes que meu pai tivesse chances de explicar. —Foi por minha causa...
Eu me apaixonei pelo seu pai e ele por mim...
-E qual o problema?Não
vejo mal algum nisso.
-Sim— continuou ela. —Não
há mal algum para nós, mas para Paratsu tem. É que quando uma bruxa entra para
Paratsu, ela é obrigada a fazer o voto de nunca se interessar por um homem fora
da seita. E quando conheci o seu pai e me apaixonei por ele, acabei quebrando o
voto... —parou para olhar meu pai que também não desgrudava os olhos dela.
-E...?—interroguei.
-E que se uma bruxa
quebra tal voto ela é imediatamente considerada como traidora e com isso esta deve
ser morta o quanto antes. Não só ela, mas como todos com que ela se relacionar.
Pois os segredos da seita não podem transpirar.
-Então, vocês vieram para
cá em busca de guarida?
-Isso —disse Zaya.
-Só por uns tempos... —
completou meu pai.
Não tive escolha.
-Tá, desde que eu não
corra perigo...
-Não se preocupe juro que
nada vai te acontecer. Palavra de pai— falou meu pai erguendo a mão direita
como se estivesse fazendo um juramento.
Acenei a cabeça
concordando falsamente, pois sabia que de uma maneira ou de outra, meu pai
acabaria me pondo em encrencas.
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