Via meu reflexo naquele pedaço de
vidro polido e emoldurado. Não conseguia acreditar nisso! Eu aqui, deitada em
minha cama, empunhando um espelho dado, por uma velha completamente
desnorteada, pretendendo fazer um desejo. O que o desespero não faz com as
pessoas. Mas eu precisava tentar. Se desse certo, beleza!Se não, azar.
Teria que arcar com as conseqüências.
Que muito provavelmente não seriam nada leves. Suspiro. Vida de adolescente é
nada fácil. Sabia que aquilo era uma completa loucura, contudo, eu tinha que
tentar.
Encaro a minha gêmea do outro lado
espelho, e peço:
--Espelho... —estaco, por vergonha.
Aquilo parecia ser muito idiota. Porém tinha que tentar salvar o meu boletim
hemorrágico. -- Desejo que as notas vermelhas que tenho em meu boletim
transformem-se em notas boas, melhores...
Ao dizer isso algo de muito
impressionante acontece: as pedras da haste do espelho começam a reluzir
fortemente. Como se de certa forma houvessem adquirido vida. Olho os desenhos
que ali foram cinzelados. Passo o indicador por sobre os relevos das figuras,
sobre tudo a de um sátiro e... Ai! Perfuro meu dedo ao encostar no chifre da figura.
Imediatamente, num reflexo inconsciente,
levo o dedo à boca na tentativa desesperada de estancar o sangue. Argh! Que
gosto horrível. Gosto era de ferrugem! Preocupada, pego do espelho e verifico
se não está com alguma parte com ferrugem. Felizmente, não estava. Apesar da
boa notícia, algo me chama a atenção. É que as pedras que antes luziam
vivamente, agora estavam frias e apagadas. Completamente sem vida. Manuseio-o
bastão do espelho em busca do maldito ferrão que furara meu dedo. Não o
encontro.
Uma coisa que a velha tresloucar não
falara pé que quanto tempo demora a um desejo ser realizado...
Nesse momento ouço passos subindo a
escada. Quem poderia ser?Papai e mãe haviam saído. Neide a nossa empregada
folgara e Beto meu irmão chegaria lá pelas seis horas da tarde. Então quem era?
O único modo de eu saber era abrindo a porta... Sou corajosa, não tenho medo!
Não tenho medo?Na verdade um pouco...
Vai se fosse um ladrão... Ah! Isso é impraticável num condomínio onde a
vigilância é realizada, vinte e quatro hora por dia. Decido abrir a porta
(nesse momento minhas pernas tremelicavam feitas varas verdes) torço a maçaneta
e... Tento gritar mais alguém tapa minha boca.
***
--Há, há,há... —ria meu namorado.
—Você precisava ver a sua cara Su... Parecia ter visto um fantasma.
Tá não era bem um fantasma e sim o
cretino e bobo alegre de meu namorado. Que raivaaaa! Ele havia me pregado um
susto. Como não tinha pensado nisso antes.
-- O que você esta fazendo aqui? Não
era pra você estar no curso de inglês?— pergunto já enraivecida. Acho que ele
percebeu e parou de rir.
-- O professor faltou então por isso
não houve aula. E quis fazer uma surpresa pra você...
Estávamos no meu quarto. O espelho
estava ainda estava em cima da minha cama e ele curioso como só me pergunta:
-- É seu?—assento a cabeça. De quem
mais poderia ser. Ele pega no espelho.
-- Que legal... Parece um daqueles espelhos
do tempo da realeza...
-- Sim, parece mesmo... Fora uma velha
mendiga louca quem me dera-o.
Ele me olha com uma interrogação na
cara.
-- Sério... é mais pura verdade.Estava
voltando da escola quando ela me ...
Contei toda a história pra ele,
omitindo a parte dos desejos claro.
-- Hehehe... Vamos ao cinema hoje?
Digo sim?Digo não? Eis a questão. Anuiu-o a cabeça. E beijo-o.
***
O cinema, ontem, com Fabrizio ontem
fora muito bom. Assistimos ao filme inteiro agarradinhos. O dia hoje estava uma maravilha. Bom quase. Se não fosse o dia da
reunião dos pais e a entrega do boletim. Mamãe não havia ido à primeira reunião
do ano e com isso não queria deixar de ir nesta. E pra ela meu boletim estava
plenamente saudável, sem risco de morrer de hemorragia. E devido à expectativa,
estou aqui deitada, em minha cama roendo nervosamente as unhas dos dedos. Procuro
o espelho debaixo da cama. O pego e fico a olhar ele. Estaria ferrada ou salva?
Foi quando a porta do meu quarto abre.
Era mamãe com um cenho duro, inflexível. Boa coisa não era. Sempre quando
franzia o cenho era porque algo estava de errado.
-- Suzanne preciso falar com você....
-- Pode falar mamãe... —digo voz quase
sumindo já esperando pelo pior.
-- Eu e seu pai lhe esperaremos lá, na sala...
Droga...
Boa coisa não era. Seria
exilada do convívio social de minha família? Seria encerrada num monastério
onde monges não falam e ficam imóveis naquelas posições como replicas do Buda gordo?
Não seria bem pior...
"...como réplicas do Buda gordo" kkkkkkkk
ResponderExcluirmuito bom
Brigado Anderson! KKkk não sei de onde eu tiro essas ideias!
ExcluirAbraços!