terça-feira, 16 de setembro de 2014

Crônica de Saudade

fotos de cronicas de saudades


Arlinda observou Armando costurar o jardim. Observou este chegar até o portão pequeno e enferrujado.  Fitavam-se: ela da janela ele do portão. Aquele seria o último olhar dos dois. Uma lágrima desfolhou de Arlinda; Armando tentara sorrir alegre, mas só transparecia tristeza e saudades. Tentaram dizer como se amavam. Contudo, nada saía de suas bocas. As palavras ficavam mudas, engasgadas na garganta.
O tempo passara. E nada de noticias de Armando. Deveria ter se passado meses e até anos. Arlinda como qualquer pessoa acometida de saudades, não conseguia mais contar. Contar para ela era martelar a sentença de que ficaria mais um dia sem ver quem amava. Era morrer aos bocados a cada dia. Por isso, não contava mais.
Podia mandar cartas, mas ela não o fazia. Tinha medo de resposta. Podia ligar  também,contudo, também tinha medo.
 Mandara, certa vez, que a mãe ligasse no quartel para perguntar do marido, porém,antes que a velha perguntasse,puxou o telefone da mão dela colocando-o no gancho. Tinha medo do que ouviria.
O tempo fora passando novamente. E o coração de Arlinda cansado de sofrer, acamara a moça.
 -Mãe, antes de ir queria saber o que acontecera com Armando—implorava no hospital segurando a mão materna. Sabia que não duraria mais. Não queria durar mais na realidade. Queria morrer. Pode parecer estranho, mas quando se ama as coisas tomam proporções infinitamente maiores. O dramático se torna trágico. —Preciso saber se ele está vivo ou morto.
Já em seus últimos dias de vida, Arlinda num fiapo de voz, pergunta a  mãe:
-Então, o que é do meu marido?
A velha hesitara em contar. Parou, pensou por um momento. Respirou ,disse:
-Morrera combatendo.
No dia seguinte, no enterro de Arlinda, Armando aparece. Viera escondido. Deixara mulher e filhos num hotel da cidade.
-Por que ela não me escrevia? Não me telefonava?—perguntou ele a mãe de Arlinda num canto.
-Ela tinha medo de que você tivesse morrido.

-Eu não escrevia e não telefonava para ela, porque tinha medo que tivesse me esquecido de vez. — Isso era verdade, mas em nenhum momento o rapaz sofrera de saudades. Na verdade, no começo até tivera saudades. No entanto, com o tempo esta fora esmaecendo, até que fosse esquecida por completo. Até quando Armando sem sofrimento algum se casara e tivera filhos.

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