quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

A Pessoa Mais Distraída do Mundo

Resultado de imagem para controle remoto perdido
Acabo de chegar à seguinte conclusão: sou a pessoa mais  distraída do mundo. Sim, sou. Não há nenhum concorrente que se equipare ao meu nível absurdo de distração. Apenas eu somente.Eu vs eu. Digo isso porque  sou distraído duma forma que as outras pessoas não são. Pelo menos as normais.
E tenho como provar.
***
Certa vez, estava voltando do estágio do curso  que fazia na época, quando uma senhora me para segurando em meu braço:
--Oi? Se lembra de mim?
Encaro aquele  rosto curioso, enrugado e tento me lembrar: realmente tento. Tento,tento,tento e... Nada. Nada encontrado em meus arquivos cerebrais. Apenas um vazio. Nada havia sido computado pelo meu cérebro. Se um dia fora computado tais dados foram removidos, jogados na lixeira mais próxima ou lançados ao limbo escuro, úmido e mofento de minha memória.
Passado esse período de uma tentativa inútil de identificação (cujo qual, durara milésimos de segundos) repondo  da forma mais dissimulada que a minha cara de pau permitira:
--É claro que me lembro! Como a senhora vai?
A abraço como se realmente a conhecesse.Como se fosse um parente querido.
--Vou bem. --responde ela. --E como vai a sua família? Sinto a muito a sua perda. Dona Alzira era uma grande mulher. Foi-se muito cedo...
Dona Alzira? Que Alzira? Quem diabos era Alzira?
Não sabia de quem se tratava. 
Muito provavelmente a senhorinha estava com algum lapso de memória e estava me confundindo com outro alguém. Tão distraída quanto eu.Não conhecia dona Alzira e muito menos a dona que pranteava a morte dela. E para me livrar de tal saia justa, digo num tom soturno:
--Pobre, Alzira...pobre Alzira...
E saio correndo.
***

Outro momento que demonstra o quão sou uma pessoa distraída fora quando tomei um ônibus errado e quase fui parar na praia de Bertioga (praia próxima do lugar onde moro).Foi  num dia que também voltava do estágio. Lembro de que o dia tinha sido estressante e enfadonho (algo completamente normal na vida de um estagiário brasileiro) ansiava pela chegada do ônibus como quem anseia por um copo d'água no Saara. Fazia estágio geralmente aos finais de semana (em dias em que a quantidade de transporte é completamente reduzida). Ou seja, o passageiro que esperava por tais coletivos se transformava numa espécie de espantalho de rodovias e pontos de ônibus.
Finalmente  o meu ônibus chega--ou qual que achei que fosse o meu. Subo nele e vou para o fundo do ônibus e me  agarro no corrimão como um bicho preguiça. Olho para baixo, penso na vida: no passado e no futuro. Nunca no presente. Me distraio.
Depois de certo tempo, volto meu olhar para cima, olhando pela janela a minha frente e logo estranho: aquele não era o caminho que sempre tomava na volta do estágio. Ele estava diferente. Mais cheio de árvores mais verdejante. Quase uma selva. No mesmo, instante o meu coração começa acelerar. Havia tomado o ônibus errado....Estava indo para  um lugar que nunca havia pisado. Confirmo com o passageiro mais próximo o que meus olhos já haviam visto: aquele não era meu destino. Puxo a cordinha do coletivo e desço no ponto mais próximo. 
E novamente me transfiguro num espantalho de ponto de ônibus Esperando o que  realmente me levasse dessa vez (sem enganos) para minha casa.

***

Era sábado e estava afim de assistir algo na Netflix. Coloquei um filme e depois de meia hora assistindo-o a fome incorporou meu corpo. Fui a geladeira, peguei algo para comer. Saciava a fome enquanto assistia ao filme. O assisto todo com  tédio absoluto e com o sono já se pendurado em cada uma de minhas pálpebras. Os créditos começaram a subir e só fiz agradecer. O filme finalmente chegava ao fim. Hora de desligar a TV. Hora de dormir. Hora  de deitar na cama e sonhar com felpudos carneirinhos  a pularem fofamente por entre cercas.
Ledo engano.
Antes disso teria de desligar a televisão primeiro. Procuro pelo controle dentre os vãos do sofá desesperadamente: nada. Somente vãos escuros e apertados. Reviro a sala inteira (olho embaixo do sofá, estante, almofadas, debaixo do jarro de flores, atrás do aparelho de som, entre a coleção de dvds e nada...).
Parto para cozinha: olho debaixo da mesa, debaixo da pia, em cima da mesa,em cima da pia e novamente nada. Olho dentro do armário, do fogão e do micro ondas também e também nada encontro. De súbito, um estalo. Começo a rir. Rir de nervoso. Um risinho histérico. Não, não seria possível uma coisa dessas. Não o teria feito. Me encaminho a geladeira e abro o compartimento de debaixo.Nada, nenhum controle. Respiro aliviado. Ainda não estava caquético. Abro o freezer só para reafirmar que não estava caquético e... Para o meu espanto, o encontro: o controle. A prova cabal de minha senilidade.

***

Então? Sou ou não sou a pessoa mais distraída do mundo? 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique a vontade para comentar as séries,contos ou crônicas que posto aqui no blog.
Saber a sua opinião é muito importante para mim.